Estreou na semana passada na Netflix Outstanding: A Comedy Revolution, documentário sobre a história dos comediantes LGBT de stand-up.
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Enquanto intercala apresentações dos 22 comediantes no palco - reunidos especialmente para o especial, em Los Angeles - e entrevistas no estúdio, o filme traça um paralelo dos direitos e lutas LGBT durante várias décadas do século passado.
Ainda que haja tentativa de ser plural e abraçar todos os segmentos da comunidade, a produção evidencia a força das lésbicas que formaram gerações de humoristas e pagaram o preço por irem longe demais aos padrões de suas épocas.
A canadense Robin Tyler, hoje com 82 anos, perdeu contrato com a ABC, uma das maiores emissoras dos Estados Unidos - quando ela e Pat Harrison (que formavam a dupla Harrison & Tyler) criticaram a mais notória homofóbica do país na décade de 1970, Anita Bryant.
A dupla se desfez em 1978, mas o casal não - elas também eram companheiras de vida. Naquele mesmo ano, em apresentação solo, Tyler se tornou a primeira comediante abertamente lésbica na TV estadunidense ao abordar sem freios sua orientação sexual.
Na década de 1980, Sandra Bernhard mesclou comédia com música e fez do stand-up um show de performance de arte. Figura carimbada em programas de TV, como o de David Letterman, Sandra levou ao estúdio, em 1988, sua então amiga Madonna e ambas fizeram piadas sobre suposto caso lésbico entre elas. A cantora citou em rede nacional um famoso bar de mulheres em Nova York.
"Na cultura queer existiu um antes e depois de Sandra Bernhard e Madonna irem ao David Letterman", definiu Kate Aurthur, repórter especial da Variety.
"Madonna e Sandra eram duas mulheres poderosas e bem-sucedidas flertando uma com a outra. Acho que foi muito positivo para a comunidade queer", avaliou Rosie O'Donnell.
Rosie, uma das lésbicas mais celebradas na TV dos Estados Unidos (ela teve seu próprio programa entre 1996 e 2002 e entre 2011 e 2012), é quem cita Ellen Degeneres, maior ausência do documentário.
Também advinda do stand-up como Rosie, Ellen fez sua personagem na sitcom homônima sair do armário em 1997, na quarta temporada da atração. A homossexualidade declarada obrigou a série a mostrar o selo de advertência antes de ir ao ar e o programa foi encerrado no ano seguinte.
Nomes como os de Lily Tomlin, Margaret Cho e Wanda Sykes também ganham destaque no filme.
Gays e a aids
Dentre os gays, o documentário recupera a ousadia e pionerismo de Scott Thompson, que compunha o elenco do anárquico grupo canadense de humor The Kids in the Hall, que teve seu próprio programa entre 1988 e 1995.
"Com [o personagem] Buddy Cole eu peguei o estereótipo do gay afeminado e virei do avesso", relembra Thompson. "Fiz com que o alvo das piadas não fosse ele, fosse você."
Ele continua: "E acho que a outra razão que diferenciava Buddy Cole dos outros personagens anteriores [gays] é que ele era abertamente sexual. O viado sempre foi castrado e Buddy Cole, você sabia que ele transava."
O próprio Thompson aponta que anos antes, no final dos anos 1970, havia um movimento para incluir os homossexuais na cultura pop - seja na TV, no cinema, na música. Mas, então, veio a aids. "Homens gays naquela época eram considerados repugnantes."
Bob the Drag Queen afirma: "Houve um tempo em que a comédia aceitava bem a homofobia." Ele se lembra de comediantes famosos na década de 1980, como Eddie Murphy, que levavam as pessoas às gargalhadas e recebiam muitos aplausos por piadas abertamente homofóbicas e que associavam gays e aids.
Dirigido por Page Hurwitz, por fim, o filme é importante registro de como vozes talentosas foram silenciadas ou diminuídas por tanto tempo e também de como conseguiram se sobressair em meio a tanta discriminação - seja aberta ou velada - e criticar a sociedade por meio de uma das ferramentas mais poderosas e inatas para eles: o humor.