Por Marcio Claesen
Amor, violência, desassogego e questionamentos estão misturados em Deserto Particular, filme de Aly Muritiba, que estreou nesta quinta-feira 25 nos cinemas.
Em sua primeira metade, o filme tem o foco em Daniel (Antonio Saboia), policial que cometeu uma infração tão grave que foi afastado de sua função e pode perder o distintivo.
Em Curitiba, ele cuida do pai, que sofrendo de demência, guarda poucos resquícios do policial respeitado que foi.
Sentindo-se pressionado pela situação em que ele mesmo se colocou, varando noites em boates para ganhar extra como segurança, sem retorno afetivo do pai e relação de pouca profundidade com a irmã, Daniel tem em Sara (Pedro Fasanaro) sua válvula de escape.
Os dois se conheceram pela internet e trocam mensagens frequentemente. À certa altura, o policial se entrega a seu maior desejo no momento: conhecer Sara. Ele larga tudo, pega o carro e parte o sertão baiano em busca da amada.
Neste ponto, a atenção do filme se desvia para Sara. Como em Traídos pelo Desejo, de Neil Jordan, é impossível não falar da transexualidade da paixão do protagonista, já que ela é o conflito central da trama. E, assim como no longa de 1992, somente o anti-herói desconhece essa condição.
Sara - ou Robson, como é lida pela sociedade - leva uma vida no armário e sonha conhecer o mundo. Quando percebe que Daniel está perto, se questiona se não foi longe demais, se não almejou o impossível.
Sabe-se que Sara já está calejada com a discriminação. Foi enviada para ficar com a avó após sofrer preconceito dos pais. Mas, ali, também a intolerância dará às caras por intermédio da igreja.
Com grandes interpretações (direito a uma participação de luxo de Laila Garin) e falando de histórias e dores genuínas, Deserto Particular é filme com poucas concessões e muitos significados.
O longa foi o escolhido pelo Brasil para disputar uma vaga na categoria de melhor filme internacional no Oscar 2022. Clique em nossa Agenda para saber onde assistir.
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