Por Marcio Claesen
A história da última mulher condenada à morte na extinta Tchecoslováquia é o tema de Eu, Olga Hepnarová, longa que chegou esta semana aos cinemas.
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Como se pode imaginar pela sua premissa, o filme é denso, duro e, por vezes, sufocante. A personagem principal, Olga (Michalina Olszan), não ajuda o espectador a criar empatia por ela. Até porque ela desconhece o significado dessa palavra.
Olga é uma jovem antissocial que não faz questão de se integrar com ninguém. Ela não tem amigos, não se dá bem com a família. Da mãe, a única pessoa com a qual consegue ter algum mísero diálogo, ela ouve após uma tentativa de suicídio frustrado: "Precisa ter força de vontade para se suicidar, minha filha. E você não tem".
Em um almoço em família, quando lhe perguntam o que quer ganhar de aniversário, ela responde: "Sair daqui". E ela sai. Vai viver numa cabana de propriedade dos pais e trabalhar como motorista e mecânica. Sua única companhia constante e fiel parece ser o cigarro, que a acompanha em quase todas as cenas.
Olga é lésbica. E essa informação faz toda a diferença aqui. Estamos no início dos anos 1970 em um país socialista, onde sexualidades consideradas fora do padrão eram intensamente reprimidas. Não há espaço para o diferente, é preciso se encaixar no sistema e Olga não se encaixa.
Ela se torna uma jovem instrospectiva ao extremo, frustrada, distante, incompreendida, uma "vítima tiranizada", em suas próprias palavras. Dessa mente, que em algum momento tornou-se doentia, surgirá um plano de um crime terrível.
Os diretores Thomas Weinreb e Petr Kazda contam que a história foi filmada como um drama existencial cujo personagem principal ousa viver por seu próprio código moral. Interessam a eles muito mais o que precedeu ao crime do que o crime em si.
"O objetivo final da violência e a própria forma que aconteceu assim como a reivindicação ideológica dada pela jovem ainda são importantes no mundo de hoje: 'Não me arrependo do que aconteceu. Não era minha intenção matar aquelas pessoas em particular, não me importava quem iria morrer. Era o princípio que importava, e eu queria cumprí-lo", lembram os diretores as palavras da assassina.
Angustiante e desconfortável, Eu, Olga Hepnarová é um filme poderoso que investiga o papel da intolerância e da dificuldade de lidar com o outro na formação de processos e mentes capazes de ações irrevogáveis.
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