Em junho, ao decidir que são ilegais ingressos mais baratos para um gênero em casas noturnas, a juíza Caroline Santos Lima, do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania dos Juizados Especiais Cíveis (Cejusc), de Brasília, listou como um dos argumentos impedir que mulheres sejam usadas como "iscas" para homens em baladas hétero.
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O que não era previsto na decisão da magistrada é que a medida, depois referendada pelo Ministério da Justiça, afetará lugares em que o oposto do argumento ocorre: festa em que lésbicas e mulheres bi não querem a presença masculina, e baladas gays que desejam mais "eles" que "elas" no agito.
Em São Paulo, embora muito poucos, eventos tradicionais do circuito LGBT que praticavam a diferenciação de preços nem esperaram o início de agosto para adequar os preços à norma, que está prevista no Código de Defesa do Consumidor e que poderá ser fiscalizada pelo Procon.
Em Pinheiros, a Bubu Lounge tem duas festas em que a mulherada é quem domina. A principal forma de dar essa cara à festa Bubu Só para Elas, na última quinta-feira de cada mês, e à balada dos sábados era justamente cobrar mais de homens.
A preço diferenciado valia até para evitar assédio sexual por homens, o que é o inverso da argumentação da juíza, que, ao analisar apenas baladas hétero, defendeu preços paritários para evitar tal crime.
Na quinta, em abril, a consumação para mulheres custava R$ 20. Para homens, após 1h, R$ 100. Em julho, o preço diferenciado já foi abolido: a entrada é R$ 20 para todos os gêneros.
Procurada pelo Guia Gay São Paulo, a assessoria de imprensa da casa afirmou que a diferenciação praticada durante os últimos anos "foi apenas para sinalizar que aquela noite específica era mais frequentada por um gênero do que por outro".
A Cantho, no Largo do Arouche, limitou-se a dizer, por meio da assessoria de imprensa, que "medidas cabíveis" estavam sendo tomadas e que voltaria a entrar em contato quando tivessem nova posição, mas não o fez até a publicação desta reportagem.
Em maio, a festa Private (domingos à noite) cobrava R$ 35 de entrada ou $ 63 de consumação para homens e R$ 100 de entrada ou R$ 150 de consumação para mulheres.
O ABC Bailão, reduto de gays maduros na região central, também aboliu o desnível de preços, ainda que a contragosto.
"Já estamos praticando preços iguais há algumas semanas", contou Amarildo D. Batista, proprietário do estabelecimento. Questionado se concorda com a interferência legal no comércio noturno, ele respondeu: "Afinal, sempre sofremos alguma ingerência do Estado. Se concordássemos nunca teríamos praticado preço diferenciado".
A solução achada pelo estabelecimento foi majorar o valor da entrada masculina. Antes da mudança, mulheres desembolsavam R$ 40. Homens, conseguiam entrar a partir de R$ 25. Agora, todos vão pagar R$ 30.
Para resolver o imbróglio, o clube optou por majorar o preço pago por homens. Antes da mudança, na sexta-feira, por exemplo, mulheres pagavam R$ 40. Homens, conseguiam entrada a R$ 25. Agora, todos pagam R$ 30.
A casa continua a cobrar mais barato de pessoas acima de 50 anos.