Por Marcio Claesen
Figurinos e rostos belíssimos não poderiam faltar em um filme sobre moda e eles estão lá do começo ao fim de Saint Laurent. No entanto, o longa sobre o ícone da moda mundial que estreou esta semana em São Paulo, vai muito além do aspecto estético.
Curta o Guia Gay São Paulo no Facebook
Dirigida por Bertrand Bonello (de Tirésia, de 2003, sobre uma transexual brasileira), a cinebiografia de Yves Saint Laurent é longa (150 minutos), mas não porque tente abarcar toda a sua vida. Longe disso. A produção escolheu um recorte da trajetória do artista entre 1967 e 1976. À juventude ficaram relegados breves flashbacks e uma espécie de epílogo dá conta de seus últimos dias.
O que interessa a Bonello é mostrar o período que coincidiu com o auge da grife e a atribulada vida pessoal do estilista (vivido por Gaspard Ulliel). Sua conturbada relação com o marido e sócio, Pierre Bergé (Jérémie Renier), e a paixão descontrolada por Jacques de Bascher (Louis Garrel) ganham especial atenção.
Gaspard se desnuda - literalmente - para o papel, com uma tarefa difícil de dar conta de um personagem repleto de emoções reprimidas e envolto em uma casca de superficialidade. E dá-lhe superficialidade. São noites e noites nos clubes mais badalados de Paris e Nova York regadas à uma deliciosa trilha sonora, luzes frenéticas e a companhia insepáravel de Loulou de la Falaise (Léa Seydoux) e Betty Catroux (Aymeline Valade).
Nas drogas, ele se aprofunda após se envolver o jet setter Bascher. As experiências, aqui, ficam mais densas e perigosas. Em todos os sentidos. Saint Laurent começa a por sua vida sentimental e profissional em risco, além de sua saúde. Estamos nos anos 1970 e seu amante lhe apresenta a cena gay sadomasoquista e o flerte com o fist fucking. Garrel, que virou muso gay após viver um triângulo amoroso bissexual em Os Sonhadores (2003), está no auge de seu sex appeal. Todas as suas cenas exalam sexo e fetiche.
O filme, que ganhou uma curiosa "Palma Canina" no último Festival de Cannes para Moujik, o mascote do estilista, pela cena de sua morte (ela realmente impressiona pela veracidade), é o pré-candidado da França para o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Se peca às vezes pelo excesso de cenas cotidianas que exacerbam seu lado fugaz, por outro lado, acerta na ousadia da forma, no descompromisso com uma biografia autorizada (Pierre Bergé cedeu sequer os vestidos à produção) e em momentos que traduzem sua arrogante e deliciosa dicotomia, como quando responde a uma cliente que diz que ele é o melhor: "Eu sou o único. Eu não tenho concorrentes. Eu criei um monstro", comenta Saint Laurent, num misto de soberba e autocomiseração.
Horários e locais de exibição você acessa em nossa Agenda.