Welton Trindade
Na entrada, o personagem bilheteiro de trem recebe a plateia, carimba a programação com a palavra "Embarque" e deseja boa viagem. Recepção interessante para a peça No Silêncio das Palavras Escondidas, com texto e direção de Marcos Lopes, em cartaz nos sábados de março e abril na cidade.
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Vê-se logo o personagem Alguém (Wesley Vieira) na estação de trem à espera de seu amado, o qual nunca retorna. A expectativa pontuada por cada composição que chega é recheada com reminiscências. Estão aí a descoberta da homossexualidade, a amiga travesti violentada por homofobia, os desejos pelos colegas na escola.
Já aí a espera que começa a ser frustrada é a do público. O figurino (em peça ambientada na metade do século passado) parece desleixado por vezes, o personagem do mágico incomoda pelo histrionismo, as piadas não funcionam...
A esperança volta quando é mostrado o encontro de Alguém com o homem pelo qual bate seu coração. O sonho de ser amado e de amar parece próximo da concretude. Entretanto, não há dia seguinte e o escritor que receberia o coração do protagonista simplesmente não reaparece. Coração partido!
Acontece então o golpe fatal na peça. Explicando que se trata de um sonho, Alguém torna-se um equilibrista que vive história de amor com uma bailarina (Tatiane Resende em boa atuação). O que poderia ser apenas uma alegoria torna-se um peso gigantesco no texto. Todo o envolvimento conseguido junto ao público até então torna-se cinzas.
Da paixão vivida por dois homens sem culpa nenhuma passa-se a ver a luta daquele pela amada (?!). E com isso ocupa-se boa parte restante do espetáculo.
Se a proposta foi colocar mais um vagão e acrescentar reflexões sobre as várias formas de amar, o que se conseguiu foi por em ação dois trens desgovernados que se chocam. E daí pouco resta além de algo mal contado.
Mais informações sobre a temporada de No Silêncio das Palavras Escondidas em nossa Agenda.