Murillo Effe é Shirley Pão na Chapa no espetáculo 'Dark Room', em cartaz em SP

Publicado em 13/05/2014

Murillo Effe entre Ariany Rhaverlaq e Márcio Lima - elenco de 'Dark Room'

Marcio Claesen

Mais conhecido por personagens cômicos como o faxineiro Joilson ou a drag queen Nata$hara$ha, Murillo Effe pode ser visto no espetáculo Dark Room em um texto denso sobre reflexões de um jovem à beira da morte a respeito de sua própria vida.

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Com texto de Mario Viana, Dark Room é uma peça que mistura tudo: gêneros, tempos, cenários, vida e morte. Wesley (Márcio Lima) sofre uma agressão e relembra parte de sua trajetória. Esta é mostrada fragmentada, de forma não-linear, quando surgem a mãe Janete (Ariany Rhavilaq) e o pai, a drag Shirley Pão na Chapa (Murillo Effe). 

Murilo, que também dirige o espetáculo, falou ao Guia Gay São Paulo, sobre os desafios de montá-lo e o humor ácido que contrasta com um tema forte e respondeu se seus personagens ganharam vida própria.

Guia Gay São Paulo - Como você chegou ao texto? E o que te interessou nele?

Murilo Effe - Eu já havia feito alguns trabalhos com o autor, Mario Viana, e quando ele escreveu este texto, me convidou para algumas leituras dramáticas. De cara eu me apaixonei pelo texto. E me identifiquei muito com ele, também.

Acho que a parte mais interessante é justamente a forma que o autor montou um texto que aborda temas bastante densos e bem contemporâneos, sem cair no piegas ou no melodramático. Pessoalmente tenho muita identificação com o texto. E acho que muita gente deve sentir o mesmo quando assistir à montagem.

Guia Gay São Paulo - Qual foi sua proposta de direção?

Murilo Effe - A direção do texto original do Mario Viana é um desafio. Ele faz uma narrativa quase cinematografica, e colocar tudo isso no palco é bem desafiador. Eu preferi seguir pelo processo mais simples. Antes de construir cada marcação, eu procuro estabelecer entre os atores uma certa compreensão da intenção e do sentido daquela cena. Tambem costumo dar a condução aos atores, mas com uma intenção de deixá-los à vontade dentro de seus personagens.

Tenho um processo de preparação e direção de cena bem particulares, e costumo seguir por caminhos que provavelmente alguns devem achar controversos, mas o meu foco é resultado. Acho que em cena, o ator deve ser verdadeiro. Seja em drama ou comédia. Se a atuação não for verossímil para o ator, não passa credibilidade para o espectador.

Guia Gay São Paulo - O espetáculo é bastante denso, mas também tem momentos cômicos. O público pode esperar por uma "porrada"?

Murillo Effe - Sim, é denso, mas não no sentido da "porrada". Acho que muito mais pelo conteúdo, pelos assuntos, mas mesmo assim, eles são desenvolvidos de uma maneira muito fluida. Há certos momentos de humor, até meio ácido que são caracteristicos da personagem da drag. Mas temos músicas, temos momentos mais tensos, e é exatamente a fluidez dessa construção que é o fio condutor do espetáculo. 

Acho muito importante dizer que a despeito do titulo do espetaculo, a historia não tem exatamente relação com o sentido de dark room conhecido em baladas. Na verdade o dark room que o autor apresenta aqui é aquele do subconsciente, das memórias, dos conflitos, da essência do ser humano. Ao contrário do que muitos podem pensar, não há nada de conotação sexual.

Guia Gay São Paulo - Você é muito conhecido pela sua personagem, a Nata$hara$ha. Em algum momento ela te cerceou de alguma forma? De, por exemplo, ter explorado menos o seu lado dramático? Ou de acharem que ela é "maior" que o Murillo? Ou foi uma escolha pensada e sem arrependimentos?

 

Acho que no circuito de nightclubs e boates talvez eu seja mais conhecido pela personagem, mas tenho outros que são tao conhecidos ou até mais, como o esotérico Diego Varejon, ou o faxineiro Joilson, que são parte de programas de humor em canais de TV, entre outros mais, mas assim como todos eles, também com o trabalho como Nata$hara$ha eu sempre procurei estabelecer ao público uma identificação de que aquele é um personagem, e que há um artista por detrás disso. Isso se reflete no respeito que tenho de quem acompanha meu trabalho. Justamente por reconhecer e não confundir criador com criatura.

Claro que eventualmente algumas pessoas podem se surpreender quando vêem algum trabalho diferente, mas Nata$hara$ha tem pouco mais de vinte anos de existência enquanto que o artista Murillo Effe tem mais de trinta anos de carreira, incluindo trabalhos como autor, roteirista e produtor, tanto no teatro quanto na TV. Isso já deixa bem claro que meu trabalho, de uma maneira geral, é um pouco mais amplo do que muita gente conhece. Não há arrependimentos quando qualquer trabalho que você faça seja sincero. Nata$hara$ha é só um deles, para mim. Mas antes de qualquer um, há sempre o artista. Este, sim, é o mais complexo. 

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Mais informações sobre Dark Room, que está em cartaz todas as sextas - até 25 de julho - no Teatro do Ator - você tem em nossa Agenda.


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