Por Marcio Claesen
A descoberta da lesbianidade é o tema do delicado A Primeira Morte de Joana, longa que integra a programação do 29º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade.
Na produção de Cristiane Oliveira, Joana (Letícia Kacperski) é uma garota de 13 anos que enfrenta o luto após a morte da tia-avó Rosa (Rosa Campos Velho).
Uma dúvida paira sobre sua cabeça a respeito da idosa: por que ela não teve namorado? Aliás, ela teria tido envolvimento sexual em algum momento da vida?
Joana divide seus questionamentos com a amiga Carolina (Isabela Bressane) e, juntas, elucubram e investigam o tema.
Em paralelo, a adolescente teme sofrer do mesmo mal que vitimou a querida parente e se tateia no espelho em busca de sinais.
Joana sente dor no joelho, a mesma que a tia-avó tinha no início da doença. A metáfora usada pelo filme é clara e poética.
Em uma casa só de mulheres, a jovem convive com uma mãe controladora, Lara (Joana Vieira), e uma avó libertária, Norma (Lisa Becker).
Um lar de batalhadoras no sul do Brasil (o longa foi gravado em Osório, norte do Rio Grande do Sul), que vendem cucas, bolo típico da culinária alemã.
Caroline é mais que um apoio: a amiga, que veio de uma temporada em Berlim, representa a quebra de padrões e o desafio da busca por ser verdadeira consigo.
O jogo entre elas é sutil e típico da adolescência, assim como as amarras e os medos.
O preconceito que permeia os espaços - a escola, a família, a sociedade - surge como conlifto à altura das próprias angústias.
Bem escaladas, Letícia e Isabela dão naturalidade e frescor ao sensível texto (coescrito por Cristiane e Sílvia Lourenço).
Por fim, A Primeira Morte de Joana tem foco nas mulheres, em especial, as lésbicas, mas é um deleite para todos os tipos de público interessados em uma história sensível e, ainda, atual.
“A morte no filme está relacionada à transformação e como, às vezes, precisamos morrer numa forma de ser para renascer nas nossas lutas e conseguir existir", explica a diretora.
"Um poema do Mário Quintana, que inspirou o título do filme, diz que ‘amar é mudar a alma de casa’. Então há também esse aspecto simbólico da palavra morte, que remete ao momento em que se perde o controle sobre o próprio corpo, quando ele passa a ser ocupado pela lembrança constante de alguém por quem nos apaixonamos."
O filme tem sessão na sexta-feira 19, às 20h30, no Cinesesc.
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