Por Marcio Claesen
Estreou esta semana na cidade Névoa Prateada, longa da diretora holandesa Sacha Polak rodado em Londres.
História de ficção, mas com vários ingredientes da vida real, o filme é de difícil digestão já que não faz concessões a seus personagens complexos e que se chocam pelo caminho.
Franky (Vicky Knight) é o fio condutor da trama. A enfermeira de 23 anos vive no subúrbio londrino com uma família disfuncional.
Seu principal objetivo é provar que a hoje mulher que vive com seu pai (e o irmão que não conhece) tramou um acidente que lhe deixou marcas - na pele e na alma.
Aos oito anos, Frankie sobreviveu a um incêndio, mas mais de um terço de seu corpo ficou com cicatrizes.
No trabalho, no hospital, ela conhece Florence (Esme Creed-Miles), jovem que tentou o suicídio e lhe desperta um inusitado interesse sexual, já que até aqui Frankie só se relacionava com homens.
A homofobia chega sem avisar mostrando que uma das capitais do mundo pode estar mais próxima do que parece de qualquer cidade pequena, média ou grande sul-americana quando família ou estranhos se deparam com o amor entre iguais.
O novo casal vai viver então na casa de Florence, que foi abandonada pela mãe biológica e mora com o irmão e a mãe de criação, Alice (Angela Bruce), que padece de câncer terminal.
Lá, a enfermeira desenvolve novos pontos de apoio, ao mesmo tempo em que percebe que Florence (que se define como uma pessoa ruim) é tão fascinante quanto indiferente.
Polak vai colocando elementos na trama - como o da irmã de Frankie, Leah (Charlotte Knight), que vira muçulmana - tornando a história mais intricada.
Chama atenção o fato de Vicky Knight ser ela mesma uma vítima de incêndio em situação similar há exatos 15 anos. Mais que isso: é sua própria irmã, Charlotte, que vive a sua parente no longa e ela também é enfermeira na vida real.
Este é o segundo longa de Polak e Vicky juntas. Em 2019, Vicky cedeu às insistentes propostas da cineasta que queria tratar em Dirty God de um crime que aumentava e assustava as mulheres inglesas na década passada: o de serem atingidas por ácido no corpo e ficarem com cicatrizes.
Em entrevistas, a atriz contou sobre o risco de encarar seus demônios e recordações para levar à ficção algo similar às suas vivências. Ao menos em Névoa Prateada, deu certo.
Ela transita num desconcertante caminho entre a fragilidade e a força que humaniza sua personagem. Suas cicatrizes, que causam estranheza e talvez desconforto no momento inicial, se imiscuem à sua personalidade como parte do que ela é, mas sem roubar o foco de suas marcas internas.
No doloroso caminho que mescla vingança e desassossego, Franky descobre outras emoções e trilha uma trajetória que vai de decepções a um almejado alívio.
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