Um paciente gay foi humilhado e maltratado por homofobia no Hospital San Pablo de Coquimbo, na cidade litorânea de Coquimbo, no Chile.
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A denúncia partiu do Movimento de Integração e Libertação Homossexual, o Movilh, maior entidade LGBT chilena.
O paciente de 36 anos, que não teve nome divulgado, foi submetido a cirurgia de alta complexidade e estava na unidade para receber cuidados pós-operatórios. Foi aí que começaram os episódios de discriminação.
"Eu me vesti e saí do meu quarto, mas um enfermeiro da unidade de emergência, identificado como Edward Encina Zamora, com uma voz raivosa me disse 'O que você está fazendo aqui? Vá para o seu quarto porque tem pacientes com covid aqui'. Eu respondi 'É que acabo de receber alta. Quero saber se consigo andar', ao que ele disse 'Não, vai para a tua cama'. Fui para a minha cama", contou o paciente à entidade.
Ele diz que depois voltou para o saguão do hospital para encontrar o companheiro que iria levá-lo para casa. "Lá, eu percebi que estava sangrando. Fui imediatamente para a enfermaria onde estava Zamorra. Pedi para ele me examinar, mas ele me disse para ir para meu quarto e esperar porque a enfermeira estava na hora do lanche."
O homem, então, retornou ao quarto. Dez minutos depois, ele continuava sangrando muito. Ninguém apareceu, ele voltou ao saguão, encontrou o companheiro, que ficou surpreso de vê-lo ensanguentado.
Os dois procuraram ajuda e a resposta foi a mesma sobre esperar a enfermeira. "Fui mais uma vez para meu quarto e deitei na cama ensanguentada. Eu não aguentava mais esperar e apertei o botão de pânico."
Ele relata que quando o mesmo enfermeiro apareceu e ele lhe mostrou que sangrava, o profissional falou, aos risos, na frente de outros pacientes: "Sua menstruação chegou".
Enfim, uma enfermeira chegou, pediu ajuda e ligou pelo celular para o médico, o mesmo que havia lhe dado alta. Ela apontou o companheiro do paciente falando ao médico: "Tem um parente dele aqui, o que eu falo para ele?"
O enfermeiro ouviu e enquanto pressionava a ferida do paciente, zombou, aos risos: "Diga a ele que coloquei meu dedo no buraco".
"Comecei a chorar de desamparo quando vi como aquele sádico pressionava brutalmente minha ferida e ria", relembra. "A enfermeira disse ao enfermeiro que eles precisavam de gaze esterilizada, ao que ele respondeu: “Por que gaze esterilizada? Não precisa'."
"Comecei a tremer, que me fez ter arrepios pelo corpo. O enfermeiro então me disse 'Você ficou com frio? Aqui você tem o travesseiro para você abraçar, ou você quer abraçar um homem?'."
Eles o trocaram de quarto e o deixaram lá "como um cachorro", diz o paciente. O cirurgião apareceu e receitou remédios para dor. Cinquenta minutos depois, ninguém havia aparecido para aplicar a medicação.
"Levantei-me e perguntei novamente à enfermeira responsável se ela poderia me dar algo para a dor", conta. Mais uma hora depois se passou e os remédios não chegaram.
De acordo com a entidade, o paciente começou a sangrar no saguão às 14h15. Ele só recebeu medicação às 22h, após a troca de plantão da enfermagem.
No dia seguinte, ele teve alta.
"Aos efeitos físicos somam-se os psicológicos. O paciente está muito afetado", afirma a organização.
O Movilh enviou carta ao diretor do hospital, Germán López Álvarez, pedindo que se investigue a denúncia, puna os responsáveis, indenize os danos causados e revise e atualize os protocolos, além de treinar funcionários sobre não-discriminação e direitos humanos de pessoas LGBT.
Não estão descartadas outras ações da entidade sobre o episódio.