O Brasil é o País que mais mata LGBT no mundo? Estudo publicado no último dia 1º contesta frontalmente essa frase que ecoa na mídia, no mundo acadêmico e no ativismo.
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Coordenada pelo mestre em genética e biologia molecular Eli Vieira, a análise destrinchou o relatório publicado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) em 2016, que contabilizou 347 assassinatos de LGBT.
De todos os casos relatados, o estudo de Vieira apontou que apenas 31 realmente seriam motivados por discriminação, o que perfazem 9%.
A gigantesca diferença entre as conclusões dos dois documentos é motivado, de acordo com o estudioso, pelos "graves problemas de rigor" do GGB.
Os erros seriam vários. Um exemplo é o da transexual Kimberly, morta com 94 facadas pelo namorado em Florença, na Itália. Apesar disso, o caso entrou na estatística, que se coloca como retrato da realidade brasileira.
O estudo de Vieira aponta que os autores da listagem do GGB erraram inclusive na orientação sexual das pessoas mortas ao ler notícias da imprensa, principal base de informação do relatório.
A morte de um casal foi retratada assim no site TV Diário: "Adolescente de 14 anos e namorado de 19 são assassinados a tiros em Caucaia".
Ao ler a reportagem, via-se que se tratava de casal hétero, mas o GGB considerou os mortos como dois homossexuais.
O estudo também questiona a inclusão de todos os suicídios de LGBT como motivados por discriminação.
"É evidente que, nem sempre que um LGBT se mata, é possível afirmar que a causa primária de sua decisão é a homofobia", diz
E continua: "Suicidas geralmente sofrem de depressão, que é em si a causa imediata de sua morte. É quase sempre impossível separar suicídios motivados por homofobia de suicídios de LGBT motivados por outros problemas, ao menos que haja alguma evidência como uma carta de despedida em que o suicida o diz explicitamente."
O estudo segue em frente e aponta inúmeros outros casos incluídos no relatório do GGB sem apuração e/ou por mortes acidentais creditadas como homofobia.
Os exemplos seriam vários: o diretor de teatro Glauber Teixeira morreu afogado, uma morte foi motivada por overdose, um casal de lésbicas eram traficantes de drogas e foram mortas na disputa com outra quadrilha em Goiânia.
O estudo afirma que quando questionado sobre o por quê incluir casos claramente não motivados por homofobia em seu relatório (como as das traficantes de drogas), o GGB responde com afirmação de que a "homofobia é estrutural" no País e para se explicar cita o seu próprio relatório, criando um ciclo vicioso de respostas que jamais explicam algo.
O estudo de Vieira lembra que duas importantes agências de checagem de fatos não corroboram com o relatório do GGB. O Truco, da Agência Pública, classificou a afirmação de que "o Brasil é o país que mais mata LGBT" como "impossível provar". A Agência Lupa disse que é "insustentável".
O estudo conclui que qualquer número de LGBT mortos por serem LGBT no Brasil é preocupante e exemplo de que a cultura ainda não se transformou o suficiente na direção do respeito ao indivíduo diferente. "No entanto, tentativas de inflar esses números, honestas ou não, dificilmente ajudam a qualquer causa justa."
"A maior aliada da justiça é a verdade. E o maior aliado da verdade é o rigor. Faltam rigor e verdade nos números mais divulgados sobre violência contra LGBT no Brasil", conclui o geneticista, que é homossexual e ficou famoso há uns anos ao contestar o pastor e psicólogo Silas Malafaia, o qual defendeu não haver provas de que homossexualidade pode estar nos genes.
Tenha acesso ao estudo de Eli Vieira e colaboradores sobre mortes de LGBT no Brasil aqui.