Editorial
É texto de cobrança e decepção. Mas, antes, o elogio é necessário. Projeto de lei estadual em São Paulo objetiva vetar qualquer publicidade com LGBT que envolva crianças ou voltado a elas. Razão? Não causar "incômodo em famílias" com conteúdo que é "má influência".
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No legislativo paulista, a deputada trans Erica Malunguinho (Psol) é líder contra o absurdo. Fora daí, algo inédito aconteceu esta semana: em peso, diversas empresas e agências de publicidade se manifestaram nas rede sociais para evitar o avanço da proposta.
Antes, esperavam o fim da batalha e comemoravam. Agora, estão no front!
Por isso, é triste, ao olhar o que foi feito, ter de se manifestar. Sim, uma onda de boa ações, exemplos de compromisso com a cidadania, sinal de que a diversidade passa a ser valor dessas companhias. Mas não, não houve apenas acerto! E não é só um detalhe!
Exceto no caso de homens homossexuais - que acabam de criar o Dia Nacional da Afirmação Gay (28 de fevereiro), todos outros segmentos clamam e expressam sua luta em uma palavra: visibilidade!
Daí vêm Dia Nacional da Visibilidade Trans (29 de janeiro), Dia Nacional da Visibilidade Lésbica (29 de agosto) e Dia da Visibilidade Bissexual (23 de setembro).
Não é pedido. É exigência, já que se trata do direito de existir e ter reconhecimento social como indivíduos e coletivo.
E o que algumas empresas fizeram ao mostrar posição contratária ao referido projeto de lei, o qual quer eliminar existências? Eliminaram existências!
Sim, 2021, e ainda o movimento LGBT tem de lidar com a frase feita, mas real: de boa intenção... as companhias que se pintam de arco-íris estão cheias!
É inexplicável as corporações (grandes, médias, pequenas) não terem consciência ainda do quanto um símbolo com o arco-íris e apenas com as cores de um dos segmentos não dá conta da diversidade que tanto enchem as palestras e fotos sorridentes de seus CEO, CMO e que tais.
Importante registrar que grande maioria das companhias respeitaram a visibilidade de todos segmentos com o uso da bandeira arco-íris. Entretanto o desrespeito, mesmo minoritário, precisa ser logo apontado. Tim, FCB Brasil, Boticário e Oliver Latin America estão nessa lista!
Não era para ser difícil entender que, tal como a bandeira do Brasil representa todas unidades da Federação, enfim, a soma de todas partes, a bandeira do orgulho faz isso em relação à pauta de orientação sexual e identidade de gênero.
E que, como exemplo, ao pretender representar o Brasil, juntar à flâmula nacional a do Rio de Janeiro, outras 26 UF ficariam de fora ou colocadas como "menos".
A quem ouvem as equipes de publicidade ao praticar tal apagamento de identidades em um movimento que é plural? Olham matrizes internacionais para ver um novo trend e colocá-lo goela abaixo dos movimentos sociais? Fazem buscas rápidas pela internet? E quando vão respeitar a história de mais de 40 anos da bandeira arco-íris?
Sonham tais equipes criativas que triângulos rosas - algo utilizado pelas empresas esta semana - eram forma de nazistas marcarem homossexuais nos campos de concentração e que o movimento há muito luta para deixar esse passado, inclusive a referência à figura geométrica como representação, no passado?
Até autoridades acima da Linha do Equador já cometeram esse acinte e foram apontadas... Erra ainda quem quer!
As logos das empresas merecem todo cuidado por parte delas! Símbolo de movimento social? "Ah, vamos ver como a gente acha que fica legal esta semana. Vejam que legal esses triângulos aqui!"
E o argumento de a bandeira do arco-íris ser excludente não se sustenta. Ou será que é possível "acusar" as flâmulas trans e bissexual, por exemplo, de não serem inclusivas só pelo fato de, assim como aquela, não apresentar outras faixas e cores?
A crítica aqui é construtiva. É dizer que sim, fundamental ter o poder econômico e de mídia ao lado da luta social, mas que tal deve ser feito com respeito.
Empresas, saibam, não há progresso sem todas identidades visíveis e inclusas!
E não, diversidade em português não se escreve com $.