Tem causado barulho e divisão dentre LGBT em alguns lugares do mundo a tentativa de adotar novo símbolo para o movimento, a chamada Bandeira do Progresso. No Brasil, várias lideranças lésbicas usam uma só palavra para qualificar o pretenso novo ícone: excludente!
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Nossa reportagem ouviu cinco ativistas homossexuais de várias partes do País e houve coro na rejeição à bandeira criada pelo designer não-binária Daniel Quasar em 2018.
A proposta de Quasar inclui triângulo formado por uma faixa marrom e outra preta para representar pessoas "de cor", nos termos americanos, e outras três nas cores da bandeira trans.
A defesa de Quasar é que a Bandeira do Progresso é releitura da bandeira arco-íris criada há mais de 40 anos por Gilbert Baker para torná-la mais inclusiva.
A intenção, entretanto, faz o contrário, já que apaga segmentos, opinam ativistas no Dia da Visibilidade Lésbica, comemorado em 29 de agosto. A crítica vem inclusive de mulheres negras.
Marcelle Fonseca integra o coletivo GARRa Feminista e a organização da Caminhada das Lésbicas e Bissexuais de Belo Horizonte. Para ela, a nova bandeira é mais uma forma de exclusão.
"Vejo a Bandeira do Progresso, no que agora é conhecido como movimento GGGTTT, como apenas a continuação de realidade que sempre nos cercou enquanto lésbicas. Nós não existimos ou importamos, tanto que, ao reinventar a bandeira arco-íris, não há qualquer referência a nós. O progresso, pelo que parece, é continuar ignorando nossa existência."
Outro exemplo de lésbica e negra que diz não à nova bandeira é a presidente da maior marcha do orgulho arco-íris do mundo. Cláudia Regina, da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, fica com o símbolo feito por Gilbert Baker.
"Temos questões tão sérias em curso e só aparecem pequenas polêmicas. A bandeira arco-íris já representa nossa diversidade."
Integrante do Grupo Livres LGBT de Samambaia, região periférica do Distrito Federal, Greycy Campos mostra-se decepcionada com a proposta.
"Isso me chateia muito.É mais uma vez lésbicas sendo esquecidas, mais uma vez termos de nos colocar em posição de gritar mais alto do que as pessoas do próprio movimento para que a gente seja enxergada, para que mostremos que a gente sofre, que a gente morre e que nosso sangue também é derramado. Não carregarei uma bandeira que não me representa."
Na mesma sintonia está a avaliação de Lucia Livia Lisboa, vice-presidente da Parada do Orgulho LGBT de Campinas, em São Paulo.
"Uma nova bandeira, chamada de progresso, sem a inclusão das cores dos símbolos das lésbicas e mulheres bissexuais é atitude que minimiza nossa luta e mostra desconhecimento de nossa história como movimento diverso."
Integrante da organização da Parada do Orgulho LGBT de Floripa, a produtora Rose Nogueira, não pretente hastear a criação de Quasar.
"Eu não vejo sentido de usar essa bandeira. É evidente que foi feita sem pensar nas lésbicas. Ela invisibiliza não só as lésbicas, mas todas as outras letras do nosso movimento. Não adotaria essa bandeira porque ela, definitivamente, não representa a nossa diversidade."