'Me assumir travesti é uma luta política', diz atriz Renata Carvalho

Intérprete está em cartaz na cidade com a peça 'Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu', no Sesc Pinheiros

Publicado em 24/10/2016
Atriz Renata Carvalho fala de autoafirmação de travestis
'Eu me identifico travesti porque é o que eu sou', diz Renata. Foto: Bob Sousa

Em cartaz em São Paulo com o espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, a atriz Renata Carvalho contou sobre seu processo de se descobrir transgênero e tratou da autoafirmação das travestis.

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"Eu costumava dizer que eu era transexual porque era mais bonito, mas na verdade eu sou travesti mesmo. Então, era uma questão de quebrar não só o meu preconceito, mas o das outras pessoas também e dizer que não tem problema nenhum, pode dizer travesti, sim (risos)", disse Renata ao jornal A Tribuna.

A atriz revela que seu processo veio aos poucos. "Então, primeiro, eu me descobri gay, depois drag queen, depois transexual, e só depois me assumi como travesti. É muito louco porque você percebe que as pessoas falam 'é errado homem gostar de homem', que 'homem não chora'... São criadas tantas máscaras que eu não me reconhecia em nenhuma delas. Só depois de tirá-las é que me reconhecí em frente ao espelho."

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"Eu me identifico como travesti porque é o que sou", continua. "Não quero parecer nem homem, nem mulher, porque sou travesti. Claro, também, que essa é minha identidade política e social, porque é uma autoafirmação. Eu quero tirar um pouco das lendas que tem em cima da palavra travesti, que é tão estigmatizada e sexualizada. Parece até pejorativo você chamar alguém de travesti. Eu luto e resisto como atriz porque eu busco a normatização e a humanização dos nossos corpos e identidades. Então, me assumir travesti é uma luta política."

Natural de Santos (SP), agitadora cultural da cidade e militante pelos direitos LGBT, Renata conta que passou pela prostituição porque "era a única maneira de ter o que comer". Ela diz: "Eu sempre peço para as pessoas se colocarem no lugar como se tivessem 12 ou 14 anos, que é a idade que a maioria dos travestis, transgêneros e gays é expulsa de casa. São crianças jogadas na rua. Eu fui expulsa também, só que mais velha. Ou eu virava cabeleireira ou virava prostituta. Por isso, depois trabalhei como cabeleireira e decidi segurar essa onda um pouco. Porque eu queria algo que me sustentasse mas não me tirasse do foco do teatro. São os trabalhos informais que nos acolhem."

No "Evangelho", monólogo escrito por Jo Clifford, Renata interpreta Jesus Cristo no corpo de uma transexual. O espetáculo segue em cartaz no Sesc Pinheiros até 5 de novembro. Depois, irá para a Europa para participar de um festival na Irlanda do Norte. Mais informações estão em nossa Agenda clicando aqui.


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