Elenco afinado e texto denso marcam o excelente espetáculo 'Amor Indébito'

Publicado em 02/09/2014

Renata Sarmento e Diego Simionato em cena de 'Amor Indébito', no Teatro do Ator

Marcio Claesen

Uma obsessão que não cessa é o fio condutor de Amor Indébito. Texto denso, elenco afinadíssimo e boa direção fazem do espetáculo, que está em cartaz no Teatro do Ator, em São Paulo, um belo momento de reflexão sobre nossas angústias, paixões e de como lidamos com o inexorável.

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Miguel (Diego Simionato) é um jovem de 25 anos que aparentemente vive sozinho numa casa herdada do pai. Lembranças de seu passado, no entanto, estão tão presentes em seu dia a dia, que o ex-namorado Nando (Renato Velloni) é como um segundo morador do local. Neste vai-e-vem de passado e presente, o diretor (e também autor do texto) Julio César Gomes acerta perfeitamente dando agilidade à trama.

À certa altura da peça, Miguel passa a ter uma companhia que vai além de seus pensamentos. Ela é bastante real e faz um contraponto com sua melancolia. Cida (Renata Sarmento) é a vizinha que já passou dos 50 anos, que carrega no corpo o peso de casamentos terminados e de um filho que jamais conseguiu ter. Ainda assim, a boleira mantém uma vivacidade que contagia Miguel.

O jovem pintor, que não consegue esquecer Nando, com quem viveu uma atribulada relação por seis anos e findada pelo executivo, apega-se à vizinha e passa a vê-la como a mãe que perdeu há alguns anos. Ou seja, há mais de uma pessoa na vida de Miguel que ele não consegue superar. Mas o interesse de Cida no rapaz não é exatamente maternal. 

Algumas das cenas entre os dois flertam com o humor, o que propicia um respiro diante da angústia de Miguel. Outras são introspectivas, difíceis, lembrando encontros de personagens outsiders ao estilo dos melhores filmes de Gus Van Sant e Gregg Araki.

O cenário é funcional e consegue criar, curiosamente, ao mesmo tempo, a sensação de aconchego - que remete a relação Miguel e Cida - e de solidão - que evoca a ausência de Nando. Elaborada por Edu Coelho, a trilha sonora tem poucas canções, mas surgem em momentos exatos e revelam uma boa pesquisa - de tango a orquestra russa e até Pink Floyd. 

Os atores estão afinadíssimos e o trabalho de corpo e voz está à altura do peso de seus personagens. Mas isso por si só já vale outro capítulo em entrevista com o trio que publicaremos em breve. No mais, Amor Indébito é para se embarcar em uma intensa história de vida de três personagens que se conhecem melhor muitos mais em seus desencontros do que em seus encontros. 

O espetáculo fica em cartaz até 26 de setembro todas as sextas-feiras. Mais informações, você tem em nossa Agenda.


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