Welton Trindade
Imagine você falar que gosta de uma pessoa (e até gosta mesmo dela). Quer fazer homenagem a ela no aniversário. Chega o grande dia da realização do prometido e você erra o nome. Era Ana. No bolo, você escreveu Hannah.
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Imagine uma chefe de Estado que vai receber outra. Momento solene. A visitante chega à recepção e vê bandeira que foi usada pelo país dela apenas por alguns anos há décadas atrás. Essa flâmula hoje não representa mais a sua nação.
Se você é LGBT, chega de imaginar. Você tem caso concreto (e colorido) desse desrespeito coberto de boa intenção.
A marca Doritos há anos insiste em enfiar goela abaixo (sugestivo para quem faz salgadinho) do movimento LGBT de São Paulo e de toda comunidade arco-íris do País bandeira e cores que nada dizem há decadas para nós.
Veja a foto abaixo:
Essa é a bandeira usada nos últimos dois anos de parada física do orgulho LGBT de São Paulo. Contemos: 1, 2, 3, 4, 5, 6.. Oi? 7!? 8 cores!? Faixa rosa? Azul Claro?
O item foi doado pela Doritos à marcha. A explicação, que ninguém viu, era fazer homenagem à bandeira original do orgulho então gay criada em 1978 pelo ativista homossexual Gilbert Baker.
Sim, era assim! Mas essa versão durou meses antes de outra de apenas sete cores até que, também meses depois, transmutou-se na de seis cores. E é essa que domina o mundo há mais de 40 anos.
E não é que pelo terceiro ano a marca, salgadamente, insiste nessa tal homenagem mal evidenciada? Pergunte a qualquer pessoa (pergunte-se também) por que raios esses raios de luz projetados no domingo 14 na Avenida Paulista, em São Paulo, para homenagear - humpf! - o orgulho LGBT!
Está aí de novo a tal homenagem que dura três anos. Agora com a versão de sete cores (com o azul claro).
Perguntas sem resposta: custa uma marca respeitar o movimento e história do segmento ao qual ela quer fazer referência? É difícil mesmo não achar que o mundo - a ação da Doritos é global - não é puxadinho dos EUA, sede da empresa, e de qualquer conversa que a companhia possa ter tido com algumas entidades americanas?
Pergunta com resposta: a bandeira arco-íris LGBT está à venda? Para a Doritos, sim. Tanto está que ela já teria comprado e se apropriado.
Sim, teve o aceite da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. Sem problemas! Coloquemos todos os responsáveis no mesmo saco estufado! E sacudamos!
Em resposta pedida à Doritos sobre por que insistir nessa não pedida referência por anos sem fim, a marca assumiu a cooptação.
Falaram da dita homenagem e "também vai ao encontro do que acreditamos, enquanto marca: mais cores, mais diversidade e mais representatividade são premissas mais do que necessárias para a vida em sociedade."
Viu o sujeito do verbo? Nós! A empresa! Ela assume que faz o que faz, que passa por cima de um símbolo que identifica LGBT do Sertão do Cariri a qualquer arranha-ceú de Bangkok por conta do que ela crê!
Um símbolo de uma luta de décadas e mundial está à mercê do dinheiro e das crenças privadas de uma processadora de milho trans... gênico!
E ainda destrata a bandeira do orgulho! Essa, para a fábrica de snack, não é inclusiva! Olhe só! Inclusiva é a aquela o departamento de marketing da empresa decidiu!
Imagine você usar, por suas crenças e para seu bolso, a logomarca da Doritos de acordo com sua própria visão e conveniência! Processo judicial!
Que entalo na garganta!