Longe do Paraíso. A história acontece em 1957. Cathy Whitaker (Julianne Moore) é uma dona de casa que leva uma vida aparentemente perfeita, pois tem filhos, um dedicado marido, Frank (Dennis Quaid), e a possibilidade de ascensão social. Mas um dia tudo cai por terra quando Cathy, ao ir ao escritório de Frank, chocada, o vê beijando outro homem. Abalada com o acontecimento, Cathy busca conforto junto a Raymond Deagan (Dennis Haysbert), um jardineiro negro.
A aproximação dos dois causa desconfiança junto à vizinhança, que não vê com bons olhos o relacionamento entre uma mulher branca e um homem negro. Paralelamente, Cathy e Frank decidem manter o casamento para não sofrerem pressões da comunidade, enquanto procuram um médico, Bowman (James Rebhorn), para tentar curar a "doença" de Frank, pois é cada vez mais difícil ele reprimir sua tendência homossexual.
Enquanto tudo isso acontece, surge entre Cathy e Raymond uma forte paixão platônica. Longe do Paraíso, de Todd Haynes, coloca interessantes situações que, na década de 50 do século passado, eram incríveis problemas, e que hoje, em pleno século 21, continuam sendo mal compreendidas.
Em primeiro lugar, as pessoas ainda confundem sentimento de amor com atração sexual. A nossa cultura ocidental foi, com o tempo, associando amor a sexo, o que, na verdade, é uma associação infeliz. Nem sempre a pessoa que amamos é a pessoa ideal para nós na relação sexual e nem sempre a pessoa ideal no sexo é a pessoa com quem queremos compartilhar a vida. Amor e sexo são departamentos diferentes.
O sexo é uma necessidade biológica e está associado à química e ao desempenho do outro. O amor é o sentimento que nos une a outra pessoa e nos faz permanecer juntos para a construção de uma vida em comum. A dimensão sexual é algo que satisfaz simplesmente o ego. Nós fazemos sexo para nos satisfazer e não porque amamos o outro. O sexo tem a ver com a atração física e o gosto pelo corpo do outro. Isso não quer dizer necessariamente fazer do outro um objeto de prazer.
Aqui está o poder que temos de humanizar a dimensão sexual e criar também um ambiente erótico. Ter uma relação sexual boa significa também ver no outro a sua satisfação individual. Mas, de qualquer forma, o sexo é a satisfação de minha libido. O amor não tem a ver com o ego. O amor me leva a adentrar ao mundo do outro para ver o outro feliz. Ninguém vai muito longe com o amor sabendo que o outro não o ama.
O amor necessita de reciprocidade. Isso quer dizer que eu percebo no outro a felicidade em estar comigo. O meu amor não é um estorvo, e o amor do outro para comigo não é uma obrigação. E os dois estão se amando não para si próprios, mas para a satisfação do outro. Se nós soubéssemos diferenciar amor e sexo, a vida dos casais poderia ser muito mais fácil e tranquila. Como também a fidelidade seria compreendida com muito mais profundidade.
Outro ponto que ainda parece ser difícil no século 21 é a união de pessoas diferentes. É claro que a máxima "os opostos se atraem" é estúpida. Os opostos não devem se atrair no amor, caso contrário, terei muitos problemas a resolver em meu relacionamento. Mas diferenças não são oposições! As diferenças podem muito bem se unirem e se mesclarem enriquecendo o universo um do outro. Um negro e uma branca, um homem mais jovem com uma mulher mais velha não são oposições, mas diferenças que, dependendo dos dois, podem muito bem se associar e transformar a relação amorosa em algo de extraordinário. Acredito que nós precisamos evoluir humanamente com a mesma rapidez que evoluímos tecnologicamente.