Um relatório divulgado recentemente pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) aponta que em 2014 o número LGBT assassinados aumentou em 4% em 2014. Crimes homofóbicos pertencem à categoria dos crimes de ódio. Um ódio que se espalha e cria raízes. A partir do fato de que pessoas estão sendo mortas pelo simples fato de amarem e desejarem corpos iguais. Quando nos calamos diante de cada demonstração de violência homofóbica compactuamos para um possível assassinato.
Curta o Guia Gay São Paulo no Facebook
A partir dessas inquietações urgentes o Coletivo Sankofa criou o espetáculo Já Nascemos Mortos, que estreia em 8 de outubro no Centro Cultural da Penha. A temporada se estende até o mês de novembro em CEUs, Centros Culturais da Juventude e teatros de São Paulo.
Com a concepção e direção de Anderson Maciel, Já Nascemos Mortos parte da hipótese real de que homossexuais já nascem com sua sentença de morte anunciada, simplesmente por serem o que são. Nesta perspectiva, a institucionalização da homofobia é legitimada diariamente pela família, escola e Estado.
"Quando nos calamos para o apedrejamento, para o gatilho puxado, para a paulada, escolhemos um lado mesmo que não seja feito pelas nossas mãos", afirma Maciel, que, para chegar ao resultado deste espetáculo, baseou-se em notícias de crimes homofóbicos e 20 depoimentos que deram voz a familiares de vítimas que puderam contar suas histórias de perda. Para estas entrevistas, o Coletivo Sankofa ganhou o apoio do grupo Mães pela Igualdade, que reúne mães de várias partes do Brasil que lutam contra a discriminação, violência e homofobia.
Coreografias desfilam situações de personagens reais
As coreografias e os textos têm a intenção de apresentar corpos sentenciados. Neste caso, tanto o texto como a dança propriamente dita, conduzem o público à comoção e cumplicidade com essas mortes. O grupo trabalhou dentro da estética da dramaturgia do movimento – a potência do corpo em cena – de uma forma que os textos não tenham peso explicativo.
As entrevistas realizadas pelo coletivo transformaram-se em uma dramaturgia confessional, como a história de uma criança que teve o pescoço apertado pelo próprio pai que não a aceitava diante de uma frase-sentença: "Você vai aprender a ser homem!". Já Nascemos Mortos conta alguns destes casos que vão aos poucos misturando-se ou seguindo isoladas no percurso do espetáculo.
A cenografia foi pensada para que o público fique bem próximo dos atores-criadores: cadeiras serão distribuídas no palco para que as pessoas sejam parte integrante do espetáculo. No centro da cena, um caixão de criança, simbolizando a crueldade justificada, um símbolo do corpo julgado antes de suas escolhas. No ambiente cenográfico, um cheiro de dama da noite traz a experiência sensorial ao público.
"O espetáculo é uma possibilidade de se pensar sobre quem morre e quem mata, de que há uma grande violência se fortalecendo quando não impedimos uma piada homofóbica, quando não permitimos que o outro possa se expressar da sua forma. A peça também pode provocar uma pergunta: o que nos temos com isso?”, explica Maciel.
O espetáculo nasceu a partir do projeto "Quem Vai Chorar por Eles?", que busca promover canais de abertura para se discutir a homofobia. Todas as ações propostas pelo projeto foram de certa forma para alimentar o processo de pesquisa e criação do espetáculo, como oficinas de teatro do oprimido e teatro documentário; uma série de roda de conversa com convidados sobre criminalização da homofobia, homossexualidade e família, afrohomossexualidade e exibições de filmes seguidos de bate papo.
Após a estreia no Centro Cultural Penha, o espetáculo faz apresentações gratuitas, entre outubro e novembro, no Teatro Alfredo Mesquita, Teatro Zanoni Ferrite, CEU Caminho do Mar, Centro Cultural da Juventude, CEU Parque São Carlos, Espaço Cultural Cantinho de Todas as Artes - CITA e no Centro Cultural Teatro Refinaria, além de temporada paga no Teatro Studio Heleny Guariba, na Praça Roosevelt. Clique nos links em cada espaço para informações como horários e endereços das apresentações.