Em conversa com amigas, Paty Dellii percebeu que em quase nenhum lugar destinado fosse ao público LGBT fosse ao público hétero, as transgêneros se sentiam bem-vindas. Em muitos, elas inclusive, pagavam entrada ou consumação mínima muito mais altas do que as outras pessoas somente para mantê-las afastadas. Isso foi há três anos. Patty resolveu então montar uma noite dedicada à letrinha T dos LGBT na antiga Sauna Paradise, na av. São João. Cerca de 70 pessoas apareceram e ela percebeu que havia acertado no alvo.
Carla Ellen, famosa travesti paulistana, foi a homenageada da primeira noite e acabou se tornando madrinha do evento. "Pelo menos uma vez por mês ela tem de ir à festa”", garante Paty. Dali a festa foi para a boate Queen, que não tinha disponível a segunda-feira, dia em que fora realizada a estreia. Foi proposta a terça-feira e assim batizou-se a festa, Terça Trans.
O terceiro lar do evento – e definitivo – foi o Muss Bar, onde já está há cerca de dois anos. À cada 15 dias, Patty organiza a festa e tem lemas bem definidos para o evento. Um deles, é sempre ser temático (já teve de tudo, de homenagem à musica italiana a travestis da raça negra, o Miss Bonequinha de Café). Outro ponto do qual Paty não abre mão é o de só contar com a pessoas LGBT na produção da festa. Ela faz questão disso para dar emprego à comunidade arco-íris.
Travestis são maioria, mas a festa que as celebra é aberta a todos os públicos. Gays, lésbicas e heterossexuais, vários deles acompanhando as namoradas transgêneros marcam presença. Transexuais não são tão assíduas – "as que aceitam a convivência com gays e travestis, frequentam", esclarece Paty.
Além dos shows com as travestis e drag queens mais requisitadas da noite, há sempre go go boys com corpos esculturais que também se apresentam no palco do bar, que nas outras noites é lar de um animado karaokê GLS.
Baiana de Paulo Afonso, Paty Dellii morou em 10 Estados brasileiros, dois anos na Europa e voltou ao País para montar um salão de cabeleireiro, que não deu certo. Acabou se firmando como promotora de eventos. Levantar a bandeira pelos transgêneros foi algo natural para a loira que os defende da imagem negativa que boa parte da sociedade têm deles.
"A sociedade ataca o grupo. Não existe coisa pior do que alguém passar e rir na sua cara. Isso a torna mais agressiva. Travestis são agredidas e massacradas mesmo dentro de casa. Você vai trabalhar na rua e te agridem. O seu namorado te agride. Quando ela se defende, é vista como a drogada, a louca", justifica Paty.
Se na rua elas ainda são agredidas, na Terça Trans elas são reverenciadas. A única festa para travestis em São Paulo faz você deixar o preconceito de lado e perceber que debaixo de toda a maquiagem, silicone e vestidos brilhantes, somos todos iguais. Elas só são um pouco mais glamurosas do que nós.
Terça Trans
Muss Bar. R. Bento Freitas, 66, V. Buarque.
Terça (quinzenalmente), 23h30. Entrada: R$ 20 (as 20 primeiras travestis ganham um drink).