Super dote, dinheiro ou amor. Por que eles 'se tornaram' bi ou gay

Três homens relatam os motivos que os levaram a sentir desejo por outro

Publicado em 29/11/2015
sexo gay bissexual
Para psicólogo, "mudança" em sexualidade pode ser explicada pela fantasia

Não dá para ler esta reportagem com a música Born this way (nasci deste jeito), de Lady Gaga, um dos neo-hinos gays. A razão é simples: trata-se de homens que descobriram o prazer sexual com outros apenas no fim da adolescência ou até na idade adulta. Antes disso, o desejo era voltado apenas para mulheres. 

Cada um teve um motivo para a mudança: um por dinheiro, outro por amor e ainda outro por ter um pênis muito avantajado. Foram gatilhos que mudaram - ou seria reveleram? Expandiram? - a sexualidade deles.  Sexualidade, esse universo tão chocante e camaleônico como... como... Lady Gaga! 

Dinheiro - "Estava andando de boa quando vi um homem com cara de alemão. E me aproximei para tentar ajudar, dar informação sobre endereço. Mas logo vi os olhares dele, o interesse. Eu tinha 17 anos, nunca tinha nem pensado em transar com homem. Meu lance era só mulher. Ponto. Mas ele estava com ouro, roupas caras, estrangeiro. Minha ambição falou mais alto que qualquer coisa, deixei acontecer.

Era tudo novo para mim. Para ficar excitado, eu tive de fechar os olhos e imaginar uma 'mina' fazendo sexo oral em mim. E como a minha ferramenta é muito boa, o cara ficou louco. Gostou mesmo. Recebi em dólar. Devo ter gasto maior parte do dinheiro em doces (risos). 

Sempre fui um cara empreendedor, e esse episódio me mostrou um mercado promissor. Sou dotadão, é um dom que eu poderia explorar para conseguir grana. 

No começo, meu tesão estava baseado no que os clientes poderiam me oferecer: dinheiro, presentes... Hoje, seis anos depois, já sinto tesão no ato em si mesmo. As coisas mudaram. Vejo homem e fico excitado atualmente." Relato de M., 23 anos, bissexual, morador de São Paulo. 

Amor - "Era hétero. Nem cabia dúvida nisso. Aos 18 anos, me casei. Eu amava minha esposa. Tivemos filho. O casamento durou quatro anos. Tudo indo super bem, mas no término do casamento eu já começava a sentir algumas dúvidas sobre o que eu sentia. Mas não entendia. Ainda não tinha pensado em ficar com outro homem.

Para acompanhar amigos, eu comecei a ir a lugares gays, mas, quando me perguntavam se eu era gay, eu dizia que não. Porém, em uma noite, um cara se aproximou e aí fiquei bem balançado. Ele perguntou se eu era gay. Mesmo sem nenhuma experiência, disse que sim. Foi amor à primeira vista. Ficamos juntos por anos. E hoje me considero gay. 

Não acho, até por minha experiência, que as pessoas nasçam hétero, gay ou bi. As pessoas podem se descobrir. Nada está pronto, somos diversos. E a sexualidade é expressada de forma singular na vida de cada um." Relato de A., 29 anos, homossexual, morador de Brasília. 

Super dote - "Sempre fui pegador de mulher. Pegava demais! Adorava mulher! Mas uma coisa sempre me incomodava: por conta do tamanho do meu dote, 23 cm, a maioria reclamava, não fazia sexo anal, chegavam a chorar mesmo. Casei, tive filho. E nem minha esposa queria sexo anal. Mas, enfim, ia curtindo o que dava. 

Aos 27 anos, um cara se passou por mulher na internet. Quando marcamos real e ele se revelou, putz, maior susto. Mas eu estava lá mesmo, o cara queria muito. Transei. E, confesso, fiquei viciado em homem. Aguentam mais, pedem com mais força. Às vezes até sinto que falta dote para eles. A pegada com homem é muito mais forte. Hoje sou bi. E só pego mulher se ela aguentar mesmo. Do contrário, pego homem. 

Sobre virar ou se descobrir bi, acho que o que comanda é fantasia. Fazer algo diferente, incomum. Eu pego muitos caras casados com mulher, por exemplo." Relato de E., 33 anos, bissexual, morador de Minas Gerais.

Psicologia explica?

Essas mudanças, descobertas ou expansão da sexualidade relatadas são explicadas pelo psicólogo Guilherme Henderson, de Brasília. O primeiro ponto, segundo ele, é o fato de homens e mulheres serem, fundamentalmente, bissexuais, como concluiu Sigmund Freud.

E aí está plataforma para as mutações no que se sente. "A bissexualidade é ainda muito incompreendida justamente por colocar essas questões: como pode a sexualidade mudar de objeto tão facilmente?"

E há outro ingrediente nesse universo tão fluido. "Fazemos sexo por meio de nossa fantasia. O sexo só é suportável por termos isso que o sustenta, a fantasia, que é a base do desejo. Os relatos mostram que os episódios vividos colocaram em questão a fantasia. E, para salvar a fantasia, houve a 'mudança' da sexualidade."

E arremata: "No fundo, damos mais importância à fantasia do que costumamos admitir." 


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