Sem densidade, 'Versos de um Crime' tem boas interpretações e amor platônico gay

Publicado em 12/06/2014

Dane DeHaan e Daniel Radcliffe: amizade intensa em 'Versos de um Crime'

Marcio Claesen

Nada mais verdadeiro para Daniel Radcliffe do que a frase "as pessoas mudam com o tempo". Do insosso personagem-título do primeiro filme da saga Harry Potter, em 2001, até aqui, em Versos de um Crime, o ator só se aperfeiçoou em sua profissão. Mal há resquícios do bruxinho com olhar titubeante em sua interpretação como o poeta beat Allen Ginsberg. Reside em sua atuação, aliás, a melhor e talvez única qualidade do longa que estreia nesta quinta-feira, 12.

A história centra-se no começo da vida acadêmica de Allen, quando ele chega a Manhattan para estudar na Universidade de Columbia. Ali, o futuro escritor conhece Lucien Carr (Dane DeHaan), por quem desenvolve amizade instantânea e uma paixão platônica. E é aí, logo no inicio, que o filme de John Krokidas se perde.

Ao pretender mostrar como Lucien foi a maior influencia de Allen tanto no aspecto pessoal quanto profissional, o diretor cai numa cilada. Percebemos que, afinal, a vida de seu objeto de desejo é muito mais interessante e era ela que devia ser mostrada. Mas Krokidas só vislumbra isso.

Nem a história de Lucien fica clara - o diretor prefere imiscuí-la em mistério que justificaria o título do filme, mas que não suscita muitas dúvidas - nem tampouco escarafuncha o passado de seu protagonista. Mesmo a mãe internada com distúrbios psicológicos - e bem interpretada por Jennifer Jason Leigh - ganha atenção e surge apenas no início e no fim da obra, aqui, com um discurso de livro de auto-ajuda. 

O diretor prefere mesmo é mostrar as repetidas incursões da dupla - por vezes junto aos poetas William Burroughs e Jack Kerouac (interpretados pelos bonitões Ben Foster e Michael C. Hall) - nas drogas, álcool e subversões acadêmicas, como trocar os livros que estão à mostra na biblioteca por títulos polêmicos. Tudo soa previsível e adolescente demais.

Sem se aprofundar em qualquer personagem e ao fazer seu longa dirigir-se a um crime para supostamente tentar explicar um deles, o cineasta perde a chance de contar a vida de grandes poetas que marcaram a literatura americana. Ficaram apenas boas interpretações de quase todo o elenco. Mas isso é muito pouco para tirá-lo da prateleira de filmes pueris.

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