Repleta de sarados, 'A Curra' faz crítica social e fala sobre HIV

Publicado em 11/06/2014

 'A Curra' reúne belo elenco masculino para falar sobre dura situação nos presídios

Marcio Claesen

Um dos países com a maior população carcerária do mundo, o Brasil é foco constante de reportagens sobre a péssima situação de suas penitenciárias. Em vez de saírem regenerados, nosso presos voltam à sociedade ainda mais violentos, rebeldes, perigosos. É nesse contexto que estão inseridos os personagens de A Curra, de Gladston Ramos, em cartaz no Teatro Paiol Cultural.

A comida ruim, o tratamento desumano e as instalações precárias são situações rotineiras para os personagens encarcerados. São seis homens e uma transexual convivendo num ambiente em que as ameaças, sejam dos policiais ou dos outros presos, são parte do dia a dia. Um ambiente inóspito e sufocante.

A transexual Melissa Paixão dá vida à também transexual Vivita. A situação que ela vive - de dividir a cela com homens - pode ser mudada em breve, já que uma resolução federal indica que LGBT deverão ter opção de espaço de convivência próprio. Não há garantias de que isso seja cumprido, já que não punições para os presídios que não seguirem a resolução. Mas voltando à personagem, ela também é soropositiva, o que abre outro tema proposto pelo espetáculo.

Esforçada, a atriz ainda carece de mais desenvoltura para que sua atuação não fique tão marcada. Por vezes, suas falas parecem decoradas, faltando naturalidade. A caracterização da personagem é falha. Se HIV não tem rosto, aids tem. A atriz está bonita e saudável demais como uma transexual que já desenvolveu a doença e, ainda por cima, está sem medicação.

Corpos esculturais

Dos seis atores, cinco surgem com físicos perfeitos, que vão sendo revelados cada vez mais no decorrer do espetáculo. O diretor Sebah Vieira soube explorar o delicioso elenco masculino, encabeçado por Marco Mastronelli e Taiguara Nazareth. A plateia se agita com o desfile de torsos e pernas esculpidos com muita malhação.

Dan Almeida, que vive Vascaíno, se destaca. Sua atuação é bastante segura, como o personagem que mais movimenta a trama. Mastronelli vive o Poeta, que faz rir com seus ditos populares travestidos de poesia num papel que denuncia outra realidade dos presídios: o de quem já cumpriu a pena, mas continua encarcerado devido à burocracia das instituições.

Marcos Ferraz, que vive Espigão, o xerife da cela, Taiguara, que interpreta Faísca, personagem que tem um relacionamento com Vivita, e Vagner Cesarey, como Marisco, estão bem, apesar de seus personagens serem pouco esmiuçados no espetáculo. Will de Oliveira, o Cigano, a despeito de seu belo corpo, parece titubeante. É ele quem sofrerá a curra, que surge de maneira gratuita demais, uma vez que é a cena mais aguardada e dá título à peça. Eliane Donnabella e Bruno Nabuco completam o elenco, como os carcereiros corruptos, e estão perfeitos nos papéis.

O espetáculo acertou na cenografia, que os deixa o tempo todo vistos por dentre grades, e na iluminação, que torna o ambiente precário e angustiante. Mesmo que não tenha se aprofundado nos dramas de boa parte dos presos, A Curra faz um bom panorama crítico e atual da situação dos presídios do país. E ainda proporciona momentos de contemplação do elenco mais bonito dos últimos anos.

O espetáculo está em cartaz no Teatro Paiol Cultural todas as quintas-feiras até 14 de agosto. Mais informações você tem em nossa Agenda.


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