Nós vivemos em um país repleto de contradições. Uma delas consiste em vivermos em um sistema corrupto em vários níveis e, ao mesmo tempo, sermos um país cristão.
Ora, a corrupção só acontece quando a obscuridade reina, quando acordos são feitos às escondidas, quando as pessoas agem com segundas intenções para prejudicar outras e levar vantagens. Enfim, a corrupção é algo que surge quando não existe transparência e não se tem interesse pelo bem comum.
O cristão é alguém que essencialmente vive o amor ágape, ou seja, age a favor do bem de todos, pela felicidade de todos. Mas, o amor só se desenvolve na plataforma da verdade, da veracidade, da transparência.
No Evangelho de Mt 10, 26-33, o Cristo fala muito claramente que quem quiser segui-lo não pode ter medo de dizer a verdade, de viver na verdade, de proclamar "sobre os telhados" o que está em segredo.
O cristão é aquele que não tem medo de falar, de denunciar, de dizer o que acontece de errado a sua volta. O cristão que se silencia diante da injustiça e de atos errados, simplesmente não é cristão. E o Cristo na mesma passagem coloca uma razão muito certa para vivermos na verdade: "Não há nada que esteja escondido que não venha a ser revelado, não existe nada oculto que não venha a ser conhecido".
Ele tem razão, pois, com o tempo, a verdade vem à tona e quem não foi pela verdade vai ser considerado culpado, cúmplice ou no mínimo omisso. As próximas gerações irão nos questionar sobre o silêncio que temos hoje diante de muitas coisas erradas.
O cristão, mais do que ninguém, tem o compromisso com a verdade e com o dizer a verdade. Nós podemos ir à missa, mas não podemos esquecer a verdade de que a Igreja Católica está sendo omissa diante dos problemas sérios que temos, como por exemplo, na educação, na saúde ou na reforma agrária, e ainda convida políticos para usarem seus eventos religiosos como palanque.
A verdade virá à tona sobre a mentalidade ingênua e autoritária que as igrejas cristãs estão alimentando em seus fiéis. A verdade virá à tona e vai mostrar que a moral sexual da Igreja Católica cria homofobia ao ter no seu catecismo a imposição de que o homossexual deve viver na castidade.
Enfim, quem ficar omisso, vai se envergonhar no futuro, porque a verdade é filha do tempo. Hoje são os cristãos que mais correm o risco de serem vomitados da boca de Deus: "Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te" (Ap 3,16.).