Welton Trindade, diretor do Estruturação - Grupo LGBT de Brasília, CEO da Guiya Editora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.
Ano 1998. Novela Torre de Babel, de Sílvio de Abreu. A rejeição ao casa lésbico vivido por Silvia Pfeifer e Cristiane Torloni fez com que as personagens fossem tiradas da trama.
Ano 2011. Das dezenas de personagens da novela Fina Estampa, de Aguinaldo Silva, foi o mordomo Crô (Marcelo Cerrado) o mais incensado pela audiência. Efeminado, empatetado, mas espirituoso. Empatia gigantesca que o fez virar filme em 2013: o sexto filme nacional mais visto do ano, com mais de 1 milhão de espectadores.
Ano 2013: Amor à Vida inova com um gay maléfico. De tão adorado, Félix (Mateus Solano) torna-se bonzinho e seu romance com Niko (Thiago Fragoso) é o que mais recebe atenção da audiência, que chega a subir quando o casal é mostrado.
Na linha do tempo, alguns anos. No caminhar do Brasil como sociedade, uma revolução arco-íris. Gays são muito mais aceitos pela audiência de tevê aberta hoje. E é preciso registrar: tal ocorreu não só pela televisão, mas também por conta de paradas, mídia, governos, mais homossexuais assumidos...
Entretanto, o país não teria evoluído tanto sem as dezenas de personagens gays, trans e lésbicas de novelas que coloriram a tevê entre aqueles dois extremos temporais. A telenovela, aí, é mãe de si própria.
E se você ainda se choca mais com beijo gay do que com um assassinato sanguinolento na novela, mude e pare de salgar a deliciosa ceia da diversidade!
*Texto originalmente publicado na edição de 25/01/14 no jornal Correio Braziliense.