Certa vez recebi um e-mail de um rapaz pedindo orações, pois ele estava em pecado. Eu respondi que iria rezar por ele, mas procurando ajudá-lo, perguntei qual seria o pecado. Ele, então, me respondeu que era o "pecado da satisfação momentânea". Eu fiquei me perguntando que pecado seria este e escrevi ao rapaz se por acaso satisfação momentânea não seria a masturbação e quantos anos ele tinha. Ele me respondeu dizendo que tinha 12 anos e que seu pecado era, sim, da masturbação. E ainda acrescentou: "Padre, o senhor teria uma oração de cura interior?".
Esta interação por e-mail me deixou simplesmente chocado. Eu estava diante de um típico exemplo do retrocesso moral que muitos adolescentes e jovens vivem através das religiões. Um garoto que deveria estar descobrindo sua sexualidade com prazer e se sentindo alegre por ser sadio, estava, pelo contrário, se sentindo culpado por se satisfazer sexualmente, e pior, se sentindo doente por ter uma libido, a tal ponto de achar que necessitava de uma "cura interior".
Para a moral cristã, a masturbação não é somente um fenômeno passageiro e não necessário, mas, também pode estar relacionada a um problema ou à imaturidade. Quando ela, então, invade a vida adulta, é vista, pela moral cristã, como um problema de maior gravidade que merece uma atenção especial, porque pode ser um sintoma de algo mais sério e profundo. A tendência da moral cristã é encaminhar a pessoa que pratica a masturbação para a abstinência, que deve ser acompanhada da oração e dos sacramentos, tentando sempre substituí-la por ações de caridade.
É simplesmente assustador como as religiões cristãs trataram e ainda tratam o tema da masturbação. Ainda hoje em pleno século 21, ela é vista como um ato negativo, egoísta e pecaminoso. Aliás, algo que sempre me chamou atenção e eu nunca consegui compreender é a associação sempre presente da masturbação com o individualismo. Durante quinze anos de sacerdócio tive que ouvir de adolescentes e adultos, em suas confissões, que haviam cometido o "pecado" da masturbação. Mas de onde vem esta condenação do prazer que posso ter com meu próprio corpo?
Uma pista para compreendermos isso é saber que a partir do século 18, a masturbação também começa a ser chamada de "onanismo". E aqui encontramos a origem de sua condenação e a absurda fundamentação bíblica. A palavra "onanismo" tem sua origem no personagem bíblico Onã. Segundo Genesis 38, 6-11, Onã deveria se deitar com sua cunhada para engravidá-la, já que seu irmão havia morrido sem deixar descente homem.
Esta era a regra para os hebreus (que depois será oficializada como a Lei do Levirato Dt 25,5-10): o irmão do falecido deveria se deitar com a cunhada para que ela gerasse um filho que recebesse o nome do falecido e continuar sua descendência. Onã, por egoísmo, deita-se com a cunhada, mas em vez de engravidá-la, joga seu sêmen fora. Deus percebe o egoísmo de Onã e o castiga com a morte. Ora, utilizar este trecho para fundamentar a masturbação como pecado é simplesmente um absurdo. Em primeiro lugar, Onã não se masturba, mas faz o coito interrompido. Em segundo lugar, Deus não o castiga pelo coito interrompido, mas pelo seu egoísmo de não gerar um filho para a descendência do irmão. Infelizmente o ato de Onã foi associado à masturbação e esta ao castigo de Deus.
Permanecendo ou não a fundamentação bíblica, as religiões cristãs condenam a masturbação pelo menos como um ato individualista. Ora, é importante que se deixe bem claro de uma vez por todas que a masturbação é um ato saudável em qualquer idade. Ela é um momento de prazer do ser humano consigo mesmo que leva não somente à satisfação da libido, mas a uma boa autoestima.
No caso do adolescente, a masturbação não somente é saudável como também necessária tanto para os meninos como para as meninas. Os adolescentes e jovens que praticam a masturbação, se bem orientados, podem fazer dela um exercício que os tornem bons parceiros sexuais no futuro. A masturbação pode ser um exercício para o menino saber controlar a sua ejaculação. Se o homem consegue se controlar e evitar uma ejaculação rápida, ele conseguirá satisfazer melhor, principalmente no caso dos heterossexuais, a sua parceira prolongando mais o ato sexual, já que a mulher necessita de mais tempo para atingir o orgasmo.
No caso das meninas, a masturbação ajuda para seu autoconhecimento. Conhecendo-se melhor, a mulher pode orientar seu companheiro ou companheira sexual para os pontos do seu corpo por meio dos quais ela sente maior prazer. Enfim, além da satisfação que a masturbação nos traz, ela funciona como um preparo para um bom desempenho no ato sexual com o parceiro ou a parceira.
No sentido teológico, portanto, a masturbação não pode ser um pecado. Ela só pode ser vista como um bem ao ser humano. A masturbação seria um pecado, ou seja, um ato de desamor, se utilizada como um instrumento para ferir o outro. Por exemplo, no caso do marido se masturbar em vez de ter uma relação com a esposa. Neste caso, a masturbação está sendo um sintoma de uma crise conjugal ou um instrumento de agressão ao outro.
Mas, daí falar da masturbação como um pecado é simplesmente um crime das religiões cristãs que estão totalmente atrasadas no conhecimento da sexualidade humana. Na verdade, na catequese e na preparação do crisma, a masturbação, como a sexualidade como um todo. deveria ser abordada com positividade e, inclusive, incentivada.