Eleições 2016
Informações para o voto LGBT se fortalecer nesse grande momento da democracia

"Eleições 2016 serão questão de vida ou morte para LGBT", diz ativista

Coordenador da comunidade LGBT Brasil no Facebook, Everton Oliveira fala da importância do voto arco-íris

Publicado em 25/03/2016
everton oliveira lgbt brasil eleições
Para Everton, LGBT estão mais sintonizados com questões próprias e de direitos humano em geral

Na faculdade de medicina, nos anos 1990, Everton Oliveira, 42 anos, tinha preocupações não só com as doenças do corpo, mas também com males sociais e políticos. A atuação pelos direitos humanos, como um todo, e a favor da cidadania LGBT, especificamente, o tomou.

Curta o Guia Gay São Paulo no Facebook 

Como resultado, tempos depois, a então comunidade no Orkut LGBT Brasil deu início a uma trajetória que inclui elaboração de cartilha para o eleitorado arco-íris e ações pelo voto consciente. Aí estão lista de partidos e candidaturas pró-LGBT e formas de reconhecer quem tem compromisso com a questão. 

E, como o próprio Everton, morador de Guaxupé (MG), reconhece nesse entrevista, o trabalho precisa continuar, inclusive nas eleições de 2016. Afinal, como defende, a melhor resposta contra o messianismo e o movimento de direita é o "voto humanista".

Qual o caminho percorrido pelo LGBT Brasil até aqui?
Criei a comunidade LGBT Brasil no Orkut em 20 de agosto de 2010. Fui conhecendo os outros moderadores à medida que a comunidade crescia, mas eles vieram basicamente da comunidade chamada A Força Gay, e de membros expulsos de uma outra comunidade do Orkut.

O objetivo inicial era acolher, empoderar, entreter e politizar LGBT em um ambiente altamente democrático, que faltava até então na rede. Com a decadência do Orkut, fomos para o Facebook.

Tenho receio de deixar passar algumas pessoas, mas inicialmente as pessoas envolvidas com a comunidade eram usuários comuns do Orkut não engajados diretamente com militância LGBT e militantes de atuação local que mostraram seu valor a nível nacional.

A comunidade deu voz a pessoas que hoje fazem uma militância significativa, tais como Walter Silva, Daniel Rodrigues, Roberto Fukumaro, Milene Wermuth, dentre outros.

Quais os maiores pontos positivos que você vê nos debates feitos dentro do grupo? 
É o ambiente democrático que desenvolvemos. Aceitamos mesmo postagens com as quais não concordamos. Quando um administrador participa de algum debate, ele age naquele tópico como moderador para não intimidar opiniões discordantes.

Outro aspecto importante é nossa busca por acolher as pessoas que estão no grupo. Algumas que entram no grupo estão machucadas ou foram rejeitadas pela própria família. Essas mesmas pessoas vêm de fora com preconceitos incorporados, afinal somos frutos de uma sociedade preconceituosa e desigual.

Assim, há um ambiente em que se faz a admoestação quanto a eventuais preconceitos manifestados, sem excluir, banir ou ridicularizar o membro, como ocorre em alguns grupos. Exclusão, banimento e ridicularização já temos de sobra no dia a dia. Não é disso que precisamos em um grupo LGBT.

thammy miranda eleições vereador
"Qualidade do voto LGBT nos fez receber de forma fria a candidatura de Thammy Miranda, feita por partido sem histórico pró-LGBT"

Na sua opinião, a internet torna as pessoas mais apáticas em relação à política ou, pelo contrário, as desperta? 
Acredito que as desperta. Pelo menos a maioria. Todos nós temos esse germezinho da política dentro de nós. No caso específico do LGBT Brasil, o que percebi é que havia pessoas que não tinham como lidar com política porque elas estavam tão fragilizadas pela 'lgbtfobia' até dentro de casa, que elas não tinham condição ou energia para se envolverem com política. Após o acolhimento e o empoderamento que elas obtiveram no grupo, a veia política aflorou naturalmente

Outra situação interessante é que o grupo unifica geograficamente a comunidade LGBT. Assim, por exemplo, a minha voz, que ficava restrita a Guaxupé, pôde se expandir para todo o Brasil. Isso é um estímulo à militância.

Um bom exemplo de militante político do LGBT Brasil que se destaca hoje é o Walter Silva, da Paraíba. Graças a ele, o casamento civil igualitário foi reconhecido antes na Paraíba do que no Brasil como um todo.

Nesse tempo de grupo, tem percebido que há mais LGBT preocupados com as questões de superação da discriminação e de ação política? Por que consegue dizer isso?
Embora ainda estejamos num processo inicial de conscientização, já percebo a comunidade LGBT mais antenada não só em relação às questões específicas, mas também à política e aos direitos humanos de forma geral.

Como exemplos dessa evolução cito o primeiro turno das eleições presidenciais de 2014 em que tivemos Luciana Genro (Psol) e Eduardo Jorge (PV) com uma plataforma claramente pró-LGBT, com a Luciana falando pela primeira vez na história a palavra transfobia em debate na rede nacional. Não por acaso, o PSOL viu sua votação para presidente dobrar em relação a 2010.

Outro aspecto importante é a qualidade do voto LGBT, que não se deixa mais levar por aventureiros como Thammy [Miranda, filho de Gretchen], que se lança à política em um partido de histórico totalmente hostil à comunidade LGBT, como é o caso do PP. O anúncio dele foi recebido de forma fria pelo público LGBT.

Fale sobre a iniciativa da cartilha LGBT para as eleições de 2012.  
Eleições 2012 começou como um tópico da comunidade LGBT Brasil no Orkut. Os temas abordados e mesmo a redação final da cartilha foram parte de um processo coletivo de todas as pessoas da comunidade que se envolveram com o tópico. Até mesmo a capa da cartilha foi escolhida no tópico.

A primeira edição saiu para as eleições municipais de 2012. Naquele ano, de forma geral, o impacto foi muito pequeno. Acredito, no entanto, que, graças à cartilha, dentre outros fatores, o voto LGBT foi fundamental para a ida de Fernando Haddad para o segundo turno em São Paulo.

Haddad não era o nosso candidato dos sonhos, mas diante de [Celso] Russomano, do PRB da Universal, e de José Serra (PSDB), aliado a Silas Malafaia, o candidato do PT era a melhor alternativa para as políticas públicas LGBT.

Acredito também que parte da votação expressiva do Marcelo Freixo (Psol) no Rio tenha um dedinho nosso da Cartilha LGBT Eleições, o que pode ter sido um impulso para a abertura de Luciana Genro ao tema em 2014.

Já em 2014, o impacto da cartilha foi muito maior. A votação expressiva de Luciana Genro, o oportunismo de Dilma frente ao vacilo de Marina Silva (então no PSB)... Aliás, ouso dizer que um dos motivos que tiraram Marina da corrida eleitoral foi o recuo em seu programa de governo da pauta LGBT após tuítes do Malafaia. Marina passou a ser vista como uma candidata de convicções fracas e afugentou a classe média, que passou a vê-la como uma fundamentalista religiosa.

Qual o nível de importância, na sua opinião, de LGBT e simpatizantes votarem em candidaturas pró-LGBT? Você diria que, frente ao avanço do conservadorismo, chega a ser questão de vida e morte até? 
O importante é que o eleitor eleja candidatos comprometidos com direitos humanos de forma geral. Não adianta defender pautas LGBT e negligenciar as mulheres, os negros, os índios, os idosos etc. Da mesma forma, não há como defender pautas de direitos humanos sem defender os direitos LGBT.

A defesa da pauta de direitos humanos e direitos LGBT é um ótimo indicador para escolher bons candidatos, pois normalmente se trata de candidatos humanistas. Nesse momento em que populismos e messianismos de direita se espalham com a força do voto baseado na raiva, a melhor resposta é o voto humanista dado de forma serena.

E, nesse contexto, sim, trata-se de uma questão de vida ou morte não só para a comunidade LGBT, mas para toda a população historicamente oprimida no Brasil. É um absurdo continuarmos elegendo políticos que votam leis que criminalizem movimentos sociais e manifestações democráticas.

luciana genro psol
"Luciana Genro defendeu LGBT e Psol viu quantitativo de votos duplicar para Presidência da República"

Muitos defendem que voto nulo ou em branco ou mesmo abstenção é uma postura benéfica como rebeldia política. Concorda?
De modo geral, eu discordo. Não adianta eu não votar em ninguém, enquanto fundamentalistas e fascistas votam em alguém que irá me perseguir.

Para cargos legislativos, se tivermos disposição para procurar, encontraremos pessoas honradas e comprometidas.

Agora, tem que procurar, pois os bons candidatos não recebem dinheiro de gente corrupta que quer mamar no governo. Não é que não existam políticos bons e honestos, é que eles entram no jogo em desigualdade de condições.

Que ações estão sendo previstas para 2016 com foco nas eleições municipais? 
Estamos com boas perspectivas para 2016. O Grupo LGBT Brasil e a nossa fanpage nunca estiveram tão fortes, as cartilhas LGBT Eleições hoje são conhecidas e reconhecidas pela comunidade LGBT, e há outras iniciativas de outros grupos de militantes que funcionam de forma sinérgica.

A Cartilha LGBT Eleições 2016 deve sair em breve e temos perspectivas de começar a formar uma bela bancada de vereadores e prefeitos comprometidos com as pautas de direitos humanos e com reivindicações do movimento LGBT.


Parceiros:Lisbon Gay Circuit Porto Gay Circuit
© Todos direitos reservados à Guiya Editora. Vedada a reprodução e/ou publicação parcial ou integral do conteúdo de qualquer área do site sem autorização.