Por Marcio Claesen
Um dos expoentes da nova música brasileira, Jaloo é também uma das figuras que mais refletem a quebra de padrões e as infinitas possiblidades de gênero e sexualidade.
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O corte de cabelo com franja à moda dos indígenas e os tops e saias do artista compõem um visual que se causa estranhamento em alguns, gera identidade em tantos outros.
Nascido em Castanhal, interior do Pará, Jaloo, de 26 anos, está a quatro em São Paulo e tem conquistado cada vez mais espaço com sua mistura de música eletrônica, indie e tecnobrega.
Neste fim de semana, ele é atração do festival Todos os Gêneros, que desde o sábado 25 coloca a identidade de gênero como foco em debates, espetáculos e performances no Itaú Cultural (veja os horários das apresentações aqui).
Doce e franco, o cantor conversou com o Guia Gay São Paulo sobre a carreira, a infância, e talvez quem ele é e pode não ser. Veja os melhores momentos:
Infância
Minha mãe era professora primária. Ela tinha muitos amigos professores que eram gays. Professores afeminados e tal. Desde criança já era claro que eu era diferente. Minha mãe sempre soube. Mas com a cultura do patriarcado, do preconceito, fiquei na minha, recluso, jogando videogame. Eu jogava muito videogame. Depois, aos 18 anos, conheci meus amigos verdadeiros, que são meus amigos até hoje, foram as primeiras pessoas com quem eu fui sincero na vida e comecei a me libertar.
O começo
Conheci música aos 18 anos, por um amigo. Era som pop alternativo, como Bjork. Foi a partir disso que veio minha sonoridade. De música brasileira, conhecia o brega, músicas da minha terra, o Pará, como carimbó, lundu. Comecei a fazer música aos 22 anos. Estudava publicidade em Ananindeua (Região Metropolitana de Belém), era uma hora e meia de viagem até lá. Nunca exerci, graças a Deus. Com seis meses de formado, minha carreira já estava acontecendo, principalmente na gringa e também no Sudeste. Aí surgiu um convite pra produzir em São Paulo e vim pra cá.
Pará x São Paulo
Sinto saudade do clima do Pará, que é muito agradável. Eu me sinto uma criatura de lá, uma criatura mesmo, como se eu fosse um animal. De São Paulo, o que mais gosto são as festas de rua, que infelizmente estão diminuindo, não estão mais [acontecendo] como em 2012 e 2013. Adoro inferninhos. Tudo que é festa fora do circuito. Até no Arouche gosto de ir.
Militância LGBT
Não tenho muito estudo da militância. Colocaram-me na caixinha de artistas queer, não me perguntaram se eu queria estar, mas me deixa feliz. É uma carga que não sei se deveria ser assim. Então, eu estudo sobre o assunto quando tem alguma entrevista sobre isso. No momento, acho que sim, sou gay. Eu me sinto um ser muito fluido, estou passando por essa questão da feminilidade...
Sempre que posso me posiciono. A 20ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo foi a melhor parada de todas. Essa foi muito especial para mim também por causa desse assunto tão urgente da identidade trans (a aprovação da Lei de Identidade Gênero - Lei João W. Nery foi o tema do evento). É incrível como tem gay que não entende essa questão de transgeneridade.
Banda só de mulheres
Então, eu tenho agora duas bandas, um só com homens e outra só com mulheres. As meninas que estão comigo estão cheias de projetos, talentosíssimas, então elas têm que voar, tocar seus projetos. Então, criei uma segunda banda, só de meninos. Fica no palco só os meninos e eu de menina (risos). Então, tenho duas bandas. Quando elas não podem ir, vai a banda de meninos. Nos shows deste fim de semana será a banda de meninas.
Outros artistas queers
Liniker é uma pessoa maravilhosa. Ele admira muito meu trabalho e eu admiro o trabalho dele, mas é isso, por enquanto, não há essa necessidade, obrigação de sermos amigos. Tenho contato muito forte com As Bahias e a Cozinha Mineira. Estou dirigindo o próximo clipe deles, Apologia às Virgens Mães.
Futuro da música e da carreira
Minha carreira inteira é pautada pela internet. Nunca me interessei muito por televisão, rádio. As pessoas estão abrindo os olhos e escolhendo o que querem ouvir. As TV e rádios martelam o que elas querem. Fico feliz de fazer parte desse meio underground. Um sonho meu é produzir um disco do Caetano Veloso. Da Gal Costa também seria incrível, ela é muito aberta. Tenho novos projetos, videoclipe para lançar, mas não posso dizer, porque os fãs cobram muito, cria uma expectativa. Então, é melhor lançar, assim, de surpresa, sem anunciar.