Prestes a estrear em Belém, uma exposição com foco no homoerotismo foi cancelada pelo Banco da Amazônia.
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A mostra Suaves Brutalidades, de Henrique Montagne Figueira, foi aprovada em edital de artes visuais do banco com valor de R$ 25 mil.
A estreia, digitalmente, deveria ter sido realizada na quinta-feira 13. Depois, a exposição seguiria tanto para visitação presencial quanto em realidade virtual.
A montagem do evento seguia normalmente, segundo o artista, até 1º de maio. Nesta data, Figueira marcou. no Instagram, junto a uma arte de divulgação da mostra, o perfil do banco.
O perfil dele é repleto de imagens de homens nus e de sexo gay.
A partir daquele momento, reporta a agência Folhapress, as conversas com a instituição bancária tomaram outro rumo.
Na quinta-feira 6, o artista foi avisado, verbalmente, do cancelamento do evento. A justificativa é que questões de segurança relacionadas à covid-19 inviabilizariam a mostra.
Figueira pediu que a exposição fosse remanejada para o período final do edital, mas não obteve resposta.
A reportagem anota, no entanto, que até semana passada estava em cartaz, no mesmo espaço, a mostra Em Casa, de Elisa Arruda.
Sem temática explícita a LGBT, a exposição foi inaugurada em 17 de março em momento em que a capital paraense passava por rigorosa restrição de circulação.
Figueira relata que não foi dada a ele opção de realizar a mostra somente por realidade virtual.
O Banco da Amazônia é uma instituição de economia mista, mas a União detém 95,8% de seu capital social.
Em 2017, causou comoção nacional o cancelamento da exposição Queermuseu, voltada à comunidade LGBT, pelo Santander Cultural, em Porto Alegre.
Dois anos depois, o então prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella exigiu que todas as edições de uma HQ dos Vingadores, que continha um beijo gay, fossem recolhidas da Bienal do Livro.
Incluindo despesas como curadoria, assessoria de imprensa e impressão fine art, o artista gastou do próprio bolso R$ 14 mil
"Agora estou cheio de dívidas, meus cartões de credito estão todos estourados", disse à reportagem.
Figueira entrou com pedido extrajudicial para que haja comunicado oficial e público de sua mostra.
Em nota, o Banco da Amazônia afirma que o veto "visa reduzir o volume de circulação de pessoas em área comum".
Segundo a instituição, o espaço cultural do banco fica no hall de entrada da instituição, "que, por sua vez, é movimentado, pois dá acesso não somente a caixas eletrônicos como também à agência bancária, além da ser entrada regular dos funcionários".
"Tal fato foi constatado por nossa área de segurança quando houve a retomada das exposições, fato que levou a suspender as exposições vindouras, não apenas a programada sucessivamente”, afirma o banco.
Ainda de acordo com a instituição, a Secom “aprovou a exposição nos termos de instrução normativa vigente. O fechamento do espaço cultural é decisão de trato interno, destinada a reduzir a circulação de pessoas no hall de entrada da instituição”.
"O Banco da Amazônia repudia qualquer conduta discriminatória, sendo inclusive apoiador de movimentos em favor da diversidade e signatário de cláusula coletiva em favor da inclusão social independente de gênero, além de vedar e punir por meio de seu código de ética qualquer atitude nesse sentido. Logo, eventual abordagem com essa temática jamais poderia ser cerceada, mesmo porque o projeto foi inscrito e selecionado no edital. Logo, qualquer indução nesse sentido é manifestamente equivocada.”
Em suas redes sociais, o artista afirmou: "Também me causou estranheza a submissão do meu projeto à SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Não há, no edital, qualquer previsão desse tipo de aprovação."