Com protagonista youtuber, filme trans 'Valentina' repete clichês

Longa de Cássio Pereira dos Santos apresenta vilão bissexual e também peca pelo didatismo

Publicado em 19/08/2021
Thiessita: Thiessa Woinbackk protagoniza filme trans Valentina
Thiessa Woinbackk protagoniza a produção e não dá conta do que o papel exige. Fotos: Leonardo Feliciano

Por Marcio Claesen

Os dramas de uma adolescente transexual de 17 anos são o foco de Valentina, longa-metragem que chegou aos cinemas nesta quinta-feira 19.

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Estreia do mineiro Cássio Pereira dos Santos, o filme tem momentos sensíveis, mas se perde no didatismo e em sucessivos clichês embalados por fracas atuações.

Na tela, vemos a jovem Valentina (Thiessa Woinbackk) que se muda com a mãe, Márcia (Guta Stresser), para a pequena Estrela do Sul, no Triângulo Mineiro.

A transexualidade não é um problema entre as duas, mas se revela crucial no momento da matrícula na nova escola: para ter seu nome social na lista de chamada, a menina precisa da assinatura do pai em um documento.

Revela-se, então, o conflito principal do filme. Há tempos que as duas não conseguem contato com Renato (Rômulo Braga) e elas têm cerca de um mês para resolver essa pendência.

Ao mesmo tempo, Valentina é abraçada pelos novos amigos da região, um gay promíscuo, Júlio (Ronaldo Bonafro), e uma adolescente grávida, Amanda (Letícia Franco).

Letícia Franco, Ronaldo Bonafro e Thiessa Woinbackk, a Thiessita, em Valentina
Júlio (Ronaldo Bonafro), Amanda (Letíca Franco) e Valentina (Thiessa Woinbackk)

Ao repertório de personagens estereotipados junta-se mais um, que responde pelo outro drama do filme: Lauro (João Gott).

Exemplo de masculinidade, Lauro é mostrado como aquele que tem namorada, sai com outros homens às escondidas e defende moralidade da família: ou seja, um bissexual hipócrita.

Vítima de assédio, Valentina entrará em colisão com o rapaz em sequência de ações que desembocam em cena constrangedora.

João Gott em Valentina
Marcão (Pedro Diniz) e Lauro (João Gott)

A produção do longa divulga que boa parte do elenco faz parte da comunidade LGBT. Assim como em Vento Seco, longa brasileiro que estreou há algumas semanas.

Em ambos, a preocupação em se mostrar inclusivo se revela, na prática, muito mais como algo vazio do ponto de vista interpretativo do que uma qualidade.

Com exceção de Guta Stresser, quase todos os demais atores ficam à margem de seus personagens. O caso mais grave é de Thiessa, já que está em quase todas as cenas.

Conhecida como Thiessita nas redes sociais, a youtuber trans faz sua estreia no cinema em papel complexo e além de suas possibilidades. 

Ainda que tenha empatia com a câmera e certa naturalidade no texto, a jovem atriz repete por quase todo o longa uma certa expressão carrancuda, que deixa as cenas muito semelhantes, independente do que esteja sendo dito.

Pela importância do tema e a carência de protagonistas trans no cinema, Valentina poderia ser uma obra muito melhor acabada.

Por fim, o longa ainda termina eternizando uma inverdade: a de que população trans vive em média 35 anos, dado que carece de comprovações e que no Brasil é perpetuado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), ainda que a entidade já tenha sido desmentida.

 

Para saber onde assistir, clique em nossa Agenda.

 

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