O sonho de fazer mastectomia [cirurgia de retirada dos seios] é o tema de novo clipe do cantor Nick Cruz, lançado na sexta-feira 28.
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Em Sol no Peito, o cantor capixaba fala de um rapaz, transexual como ele, que passa pelo procedimento para realizar desejo de tomar banho de sol sem camisa.
"Quero muito fazer a mastectomia, mas não é uma coisa que me sufoca. Tenho paciência e vou esperar o tempo certo", revelou o artista ao Extra.
"Nunca experimentei ir à praia sem camisa. Tenho muita vontade. É um sonho, como eu mostro no clipe: a regata branca que não vai 'marcar o baile', porque a gente sempre está se sentindo ameaçado, pensando: 'será que aquele cara vai perceber que eu sou trans?'. 'Será que vai acontecer alguma coisa?'. A gente sempre está sujeito a essas situações, que de fato acontecem."
No clipe, também há referência aos ferimentos que os binders - faixas e tops que comprimem os seios - podem causar na pele.
"Os seios não me incomodam. Tem um vídeo de um garoto trans cadeirante, que ele passa pela mastectomia e fala assim: 'Eu fiz uma despedida para os meus seios, porque é uma parte de mim, estou me mutilando. É uma pena, porque eu sou feliz com ele, mas a sociedade ainda não está preparada para olhar um homem com seios na praia, livre'. Então, acaba que muitas das vezes, a gente está procurando um padrão de aceitação, não que esse seja o meu caso ou de outras pessoas, mas a gente é, sim, muito influenciado pela questão da pressão social."
Nick, que atualmente mora no Rio de Janeiro, contou que iniciou processo de transição de gênero há um ano e meio e vai trocar o gênero nos documetos.
"Como eu vejo tudo como uma construção social, não é algo que me incomoda. Eu quero, é um desejo, mas não tenho essa pressa de dizer que quero logo ou que odeio que as pessoas me chamem de Nicole, não é isso", diz.
"Já tentei fazer pelo SUS da minha cidade, que é uma cidade pequena, e não tive sucesso. É praticamente impossível. Fiz a minha transição, tomando testosterona, parando e voltando, com grana, sem grana, por um ano e meio. É um processo bem longo. E se você não tem emprego para ganhar dinheiro e pagar, fica ainda mais difícil."
Para a capa do single, o cantor escolheu uma foto dele criança.
"Eu, enquanto artista trans, não tive um pilar para me inspirar 100% e passei por muitas questões sozinho. Hoje, inclusive, recebo muitas mensagens de meninos trans que estão iniciando o processo de transição e dizendo que essa música foi muito importante para saber que ele não está sozinho", aponta.
"A identificação com a música salva vidas. Nós somos uma minoria, mas uma minoria composta por milhões de pessoas trans. Então, a gente precisa dar as mãos e se mostrar e cada vez. A gente precisa se acolher."