Cantora, atriz e ativista, Renata Peron, nome conhecido na noite LGBT e na defesa de direitos humanos, é líder da candidatura coletiva Bancada ArteVista, pelo Podemos.
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Transexual e formada em assistência social, Renata já comandou a ONG Centro de Apoio e Inclusão Social de Travestis e Transexuais (Cais) por quatro anos e estava no Centro de Cidadania LGBTQI Luana Barbosa dos Reis, da Prefeitura de São Paulo, até o meio do ano, quando deixou o cargo para poder disputar cadeira na Câmara Municipal.
Ao Guia Gay São Paulo, essa paraibana de João Pessoa que vive há 16 anos na capital paulista falou de alguns de seus projetos para a cidade e da mudança de siglas.
Renata trocou o esquedista Psol, partido pelo qual disputou ao cargo de deputada federal em 2018, pelo Podemos nestas eleições, agremiação que se define como de centro e tida como de direita pelo site especializado em política Congresso em Foco. Confira a entrevista:
O Brasil é um dos países mais avançados do mundo em direitos LGBT. E São Paulo é a cidade do Brasil com mais serviços sociais para o segmento no País. Em que acha que seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris?
Apesar da nossa luta enquanto comunidade LGBTQI ter conseguido grandes avanços, ainda temos caminho muito longo para percorrer, principalmente porque o país ainda está no topo do ranking de maior violência contra a comunidade LGBTQI.
Meu mandato englobará questões importantes para a comunidade, como empregabilidade e geração de renda para travestis e transexuais, além de cotas de 1% para pessoas trans no funcionalismo público; propor abertura de centros de acolhida LGBTQIA+ devido à alta taxa de violência sofrida nos centros de acolhimento.
Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do Podemos. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
O Podemos é um partido de centro e preza muito a questão do diálogo. Outro motivo que me levou aceitar o convite deles é poder sair da bolha que sempre estive, de pessoas que só compactuam com meus pensamentos.
Estar no meio de um partido que tem pensamentos diferentes me possibilita provocar a reflexão de pessoas mais conservadoras que lá estão e também entender deles questões diversas.
Desde que recebi o convite, o partido se mostrou muito interessado em aprender sobre diversidade, em me perguntar sobre assuntos que eles não tinham tanta profundidade, me senti muito bem acolhida por eles.
Sendo assim, hoje vejo que o compromisso do partido com a pauta LGBTQI está iniciando agora de forma gradativa e me sinto muito feliz em poder estourar essa bolha e fazer parte deste avanço.
Por que você trocou de partido com espectros tão diferentes, o Psol pelo Podemos?
Bom, todos que me acompanham desde o início da militância sabem que minha bandeira principal são os direitos humanos e a cultura.
O Psol é um bom partido, sem sombra de dúvidas, mas na última candidatura aconteceram algumas divergências que me fizeram não continuar com eles.
O Podemos este ano me fez convite no qual tive muito tempo para pensar sobre a proposta e depois de pensar muito, aceitei a proposta por ser um partido de centro e não exclusivamente de direita.
O Podemos preza pelo diálogo e lá encontrei um lugar para sair da zona de conforto, romper bolhas e poder promover o diálogo lá dentro. Fui muito bem recebida e valorizada.
Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas á população de São Paulo?
Como costumo dizer, apesar da importância da representatividade de pessoas LGBTQI na política, meu mandato não é única e exclusivamente para a população LGBTQI, é para "tod"e"s".
Dentre as propostas que acredito serem boas para melhorar a cidade se destacam: criar projeto de lei para os motoristas de aplicativos, que permita utilização das faixas de ônibus, assim como os taxistas.
Abertura das Unidades Básicas de Saúde (UBS) no terceiro horário, das 17h às 22h, e aos sábados. Aumentar a cobertura de saúde básica para homens, mulheres, idosos e crianças que não tenham disponibilidade para serem atendidos no horário atual, garantindo assim a melhoria dos cuidados de saúde das populações em vulnerabilidade social.
Propor projeto de lei municipal "Reinventando a Escola" sobre educação inclusiva nas escolas do município a partir do 1º ano. O projeto tem como eixo central levar informações para os profissionais e alunos sobre diversidade, respeito e inclusão.
Temas como inclusão de pessoas com deficiência, respeito de raça, igualdade de gênero e diversidade serão contemplados no projeto, pois uma escola que trabalha o respeito na infância formará adultos conscientes e sem preconceitos.
Pessoas não-binárias que não possuem mudanças estéticas (físicas) se consideram transexuais. A sua ideia de cota para transexuais em concursos públicos vai incluir essa população? Se sim, como seria a comprovação de que uma pessoa é não-binária?
A proposta de cotas de 1% para travestis e transexuais no funcionalismo público é algo que está acontecendo na Argentina e já está sendo muito bem implementado. Sobre a comprovação, assim como na lei de cotas raciai, funciona através da autodeclaração.
Assim como no projeto que já existe, e no qual tive a honra de trabalhar como assistente social "Transcidadania", funciona por meio da autodeclaração, pois muitas vezes as pessoas trans não têm condições de fazer o tratamento hormonal, por motivos financeiros, ou por motivos de saúde.
Afinal, não é só porque a pessoa não tem passibilidade que ela deixa de ser uma pessoa trans ou travesti.
AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay São Paulo de entrevistar todos os candidatos LGBT à Câmara Municipal de São Paulo.
Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.