A retirada das expressões "orientação sexual" e "identidade de gênero" pelo Ministério da Educação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi articulada com detalhes e estrategicamente pela bancada cristã do Congresso Nacional.
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De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, houve pelo menos dois encontros do grupo com o próprio ministro da Educação, Mendonça Filho. A agenda não teria sido divulgada para "não criar alarde". De acordo com os relatos, o ministro foi "sensível" à demanda cristã.
A retirada foi feita de forma emergencial poucas horas antes da divulgação final da BNCC. O mesmo documento distribuído dois dias antes à imprensa ainda guardava as expressões.
Ao jornal, o deputado Alan Rick (PRB-AC), da Igreja Batista, mostrou-se aliviado. "Defendo os princípios que a sociedade me cobra. Os pais não querem ver os filhos doutrinados. Eles dizem: 'Deputado, meus filhos vão para a escola para aprender matemática, português, não para ser ensinado que ele pode ter vários gêneros.' Falam que existem mais de 100 gêneros. Isso é uma loucura!"
Um dos mais importantes ativistas gays do Brasil em educação, o paraense Toni Reis, da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), disse à nossa reportagem que até chantagem houve nesse processo.
"A história se repete. Há uns anos, o kit contra homofobia foi fruto de barganha da bancada cristã junto a Dilma Rousseff (PT). Agora, os deputados usam a votação da reforma da previdência para pressionar o Poder Executivo."
O BNCC determina pouco mais da metade do conteúdo e competências que todos o alunado do Ensino Fundamental e Médio no País deve ter. O restante será de responsabilidade de Estados e municípios. A versão sem orientação sexual e identidade de gênero foi encaminhada para o Conselho Nacional de Educação, que poderá fazer mudanças. Entretanto, a palavra final é do Ministério da Educação.
Reis é otimista. "Vamos voltar a conversar com o ministério e agir fortemente no conselho. Já temos mapeados conselheiros que são pela volta das expressões. Nossa estratégia é mostrar questões técnicas, de educação. E não achismos ou ideologias religiosas."