Aficcionado por esportes, área de sua profissão, o fortalezense Fabiano Gurgel mora há 11 anos em São Paulo e é candidato a vereador por São Paulo pelo PSB.
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Formado em educação física pela Universidade de Fortaleza (Unifor), ex-atleta e modelo fitness, Fabiano é gay, tem 40 anos e a atividade esportiva como um dos focos da vida.
"Para mim, o esporte significa saúde e inclusão social", contou ele ao Guia Gay São Paulo. "Por meio deles, podemos tirar as crianças e adolescentes das ruas, o que vai ajudar na prevenção e no combate às drogas e à violência, e promover a segurança pública", pontua.
Durante seu atual desafio, que não é chegar ao pódio, mas sim à Câmara Municipal, o socialista falou com os Guia Gay São Paulo. Veja os principais trechos.
O Brasil é um dos países mais avançados do mundo em legislação pró-LGBT e São Paulo tem série de serviços e leis voltados ao segmento, mas ainda há desafios. Quais são suas propostas para superá-los?
Aumentar a segurança pública nas vias e espaços públicos frequentados pela comunidade LGBT; criação de incentivo às empresas privadas a investir nos campeonatos esportivos LGBT, gerando emprego, visibilidade e igualdade social; e criação de cotas em concursos públicos do município e projetos de lei de incentivo fiscal para empresas que contratarem pessoas transexuais e travestis.
Além disso, vou defender parceria com entidades sem fins lucrativos que cuidem de pessoas trans/travesti para inserção no mercado de trabalho, desburocratização de documentos de pessoas trans. Precisamos não só de legislação, precisamos de representação! As pessoas precisam conhecer as novas leis, elas precisam entender que o preconceito delas não pode ferir as outras pessoas. Precisamos deixar claro que o seu parceiro sexual não te define, a sua conduta não normativa não define seu caráter, sua dignidade, sua força de trabalho.
Quais são seus principais projetos para a população de São Paulo em geral?
Na economia, elaborar projeto de lei que determine incentivo fiscal para empresas que proporcionem aos seus empregados fomento para atividades físicas, visando a melhora da saúde e qualidade de vida da população.
No esporte, criação de espaço público em parceria com o Executivo para a promoção da saúde integral, trabalhando prevenção e a consequente diminuição da ocupação nos postos de saúde. Política pública de atividade física "Mexa São Paulo" com o objetivo de promoção da saúde.
Quem votar em você ajudará a eleger outras pessoas do seu partido. Qual o compromisso do PSB com a comunidade LGBT?
O partido busca ser meio de comunicação entre pontos que não se comunicam. Eu ser gay não me limitou a estudar, não fez com que eu me tornasse um filho ruim, ou uma pessoa agressiva, violenta, alguém que precisa de aceitação constante da sociedade. Me fez focar no trabalho que eu precisava fazer, me fez estudar mais e me dedicar muito mais, justamente por saber das dificuldades e preconceitos que eu enfrentaria.
E é essa ideia que eu quero trazer paras pessoas: que podemos mudar o mundo com educação e esporte, respeito e amor. Subjetividades, ideias, podem nos afastar ou nos unir, cabe a nós escolhermos que lado estamos. Da democracia e do respeito ao próximo, ou do aprisionamento da sua liberdade.
Nas redes sociais, muitas pessoas, por preconceito, desqualificam o discurso de homens com sua aparência somente por causa do tipo físico (sarado). O que você pensa disso?
Vivemos numa sociedade julgadora. Eu estou dentro do estereótipo comum da masculinidade alpha: o homem com barba com músculos evidentes e que busca melhorar sua estética. Ele será sempre julgado como narcisista, alguém que só se preocupa com a aparência. Até porque muitas vezes, diante da rotina de treinos, nos mostramos muito, nosso corpo se torna reflexo do nosso estilo de vida.
Então, eu acredito que é um desafio para mim essa questão, mostrar que eu não sou apenas um corpo sarado, mostrar que eu não sou apenas uma imagem do ego e da vaidade. Sou um profissional da área esportiva, e meu público sempre me acompanhou nas redes sociais pelo trabalho que desenvolvi no mundo fitness.
Hoje minha proposta está muito além da questão estética. Justamente por estar dentro desse personagem masculino padrão, você recebe respeito, mas e os gays que não estão dentro do estereótipo masculino? Por isso eu luto pela causa LGBT. Porque para mim é uma luta além da comunidade, além do grupo específico, é uma luta por respeito, não por admiração.
Tem gerado muitas críticas no campo da esquerda a falta de críticas diretas de Márcio França [candidato do PSB à Prefeitura de São Paulo] a Jair Bolsonaro. Você aceitaria fazer acordos com o campo bolsonarista em nome da governabilidade de França caso ele seja eleito?
Não! Vai contra meus princípios e o que luto. Não será a política que mudará meu caráter e personalidade. Eu preciso que os nossos direitos sejam reconhecidos. Conheço de perto as dificuldades, sou usuário do SUS, quero igualdade para todos.
Sou socialista, estou aqui para lutar pelas causas das minorias, direitos humanos, da comunidade LGBT, dos animais e da acessibilidade para pessoas com deficiência. Estar dentro do governo com acordos voltados para bolsonarista não faz parte dos meus ideais de vida porque estou aqui para representar tudo aquilo que beneficia a população carente. Serei a voz ativa do povo de São Paulo.
AVISO: Esta entrevista abre projeto do Guia Gay São Paulo de, pela terceira eleição seguida, entrevistar todas as candidaturas LGBT ao Poder Legislativo municipal, estadual e federal.
A proposta é oferecer ao nosso público leitor informações que deem base para escolha da candidatura com melhores propostas e perfis para o avanço da questão LGBT na cidade e do desenvolvimento da capital.
Todos as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.