Ser gay no Brasil não é fácil, ser índio e gay pode ser muito mais complicado. E isso não é de hoje.
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Estudo realizado pelos antropólogos Estevam Fernandes e Barbara Arisi e publicado este ano pela editora científica europeia Springer mostra que a repressão a essa população é histórica.
Há relatos, de acordo com Fernandes, de práticas homossexuais dentre os indígenas desde o século 16, o que a Coroa portuguesa considerava "um espaço amplo para a ação do demônio".
"Os relatos não eram do próprio indígena, mas do não indígena tentando salvá-lo. O papel fundamental da colonização é salvar o colonizado de ser quem é", explicou o antropólogo à Folha de S.Paulo.
O pesquisador afirma que os índios eram considerados sodomitas, o que serviu como justificativa para as ações dos jesuítas, que teriam utilizado violência física com "requintes de crueldade".
Se os portugueses gays eram vítimas da Inquisição, os indígenas homossexuais sofriam preconceito duplo, o que lhes dava ainda menos direitos. "O português tinha direito à defesa, sabia se comunicar na própria língua. O indígena não. Era uma perseguição mais ostensiva pelo tipo de controle que se exercia sobre a vida cotidiana."
A discriminação perdura até hoje. "O indígena e LGBT não tem espaço em nenhum dos dois grupos. Qual o lugar reservado para o homossexual historicamente? Nenhum. Agora, imagina o indígena", diz Fernandes. "O colonialismo não acabou e, em larga medida, o discurso homofóbico e racista permanece. A cura gay não é coisa de cinco séculos atrás, é coisa de hoje. A retórica é a mesma", afirma.