O tapa na cara da representatividade, tão valorizada por movimentos sociais, é dado pela primeira pessoa LGBT assumida na Câmara Municipal de São Paulo, - no caso gay -, o mais jovem, negro e de periferia.
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Sim, o vereador Fernando Holiday (Patriota) está no poder, mas não para ser correia de transmissão de ideologias identitárias, pelo contrário, muito pelo contrário, está lá e critica muitas bandeiras de tais grupos.
Ele está em busca da reeleição, mas não da remissão. Nesta entrevista, ele critica cotas para pessoas trans (e coloca no lugar políticas públicas mais gerais), afirma que há vitimismo quando se fala na questão racial ao mesmo tempo que acredita na existência de discriminação, e promete continuar a trilha feita no primeiro mandato, com corte de gastos e supressão de legislação lida como excessiva.
O Brasil é um dos países mais avançados do mundo em direitos LGBT. E São Paulo é a cidade do Brasil com mais serviços sociais para o segmento no País. Em que acha que seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris?
Em 2019, fui convidado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos para visitar o país como liderança política e conhecer diversos trabalhos em prol de minorias realizadas por governos e entidades do terceiro setor.
Na oportunidade, me inspirei em programas do Partido Republicano para propor em São Paulo o PL 03/2020, que trata da criação de uma programa municipal de prevenção ao suicídio com foco especial entre a população LGBT.
Além dos dados e da visita oficial, o que me inspirou a propor tal projeto também foi a minha experiência pessoal no Ensino Médio com colegas LGBT, que sofriam com a discriminação e encontravam na automutilação ou nas tentativas de suicídio uma saída para o seu sofrimento.
Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do Patriota. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
Quanto ao partido, não acreditamos que a segregação de pautas ao extremo possa ser uma saída para a superação de males como a homofobia ou racismo. As políticas públicas devem ser pensadas para todos os cidadãos.
Mesmo o projeto que citei, por mais que tenha como principal alvo a população LGBT, trata-se de um programa que, se implementado, servirá a todo e qualquer cidadão que pense na retirada da própria vida como uma solução aos seus problemas.
Por fim, vale ainda destacar que dentre os candidatos temos Tiago Pavinatto, que já há algum tempo trabalha com o acolhimento do público LGBT sem precisar se curvar às pautas de esquerda. Ele também foi um dos responsáveis pela criação do MBLGBT no Movimento Brasil Livre.
Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas à população de São Paulo?
Em primeiro lugar, concretizar um segundo pacote de revogação de leis burocráticas como fiz nesse primeiro mandato ao aprovar a revogação, pela primeira vez na história da cidade, de mais de 100 leis que de alguma forma atravancavam São Paulo e o empreendedorismo.
Em segundo lugar, buscar acabar com outros monopólios estatais na cidade, como é o caso do serviço de "tapa-buracos" nas ruas da capital. No primeiero mandato, consegui esse feito em relação às podas de árvores, cujo serviço agora pode ser realizado também pela iniciativa privada.
E, por fim, propor uma drástica redução de gastos na Câmara Municipal, inspirado na economia de quase 5 milhões de reais que realizei em meu gabinete ao cortar 95% da verba de gabinete, mais da metade da verba de assessoria, carro oficial e dispensando o reajuste salarial dos vereadores desde 2017.
Você já classificou demandas do movimento negro de vitimismo. Ao mesmo tempo, usou a lei do racismo para se defender do que você qualificou como preconceito. Há contradição aí?
Acusar vitimismos não significa negar a existência de preconceitos. Sempre afirmei a existência do racismo e a necessidade de combatê-lo e denunciá-lo dia e noite. Minhas diferenças em relação ao movimento negro é a forma que se dará esse combate.
Ao meu ver, o movimento adotou um discurso que, implicitamente ou explicitamente, coloca pessoas negras como incapazes de alcançar o sucesso devido ao preconceito. Isso sim é vitimismo e não colabora em nada com a luta que precisamos travar.
O racismo será superado quando tivermos um discurso altivo que coloque negros em locais de destaque pelos seus próprios méritos e não com uma inclusão desqualificada para "inglês ver". Evidentemente que para isso teremos que atacar problemas crônicos da nossa sociedade como a qualidade da educação pública básica do nosso país.
Além disso, o movimento negro tem se pautado por um denuncismo que relativiza o racismo ao vê-lo onde não existe.
Uma crescente demanda do movimento trans são cotas educacionais e de trabalho para o segmento. Qual seria seu voto em projeto de lei a esse respeito e por quê?
Jamais votaria a favor. Pelas mesmas razões que me posiciono contra as cotas raciais. Qualquer inclusão de minorias que leve em consideração mais as características pessoais de alguém do que a sua capacidade curricular, não é uma inclusão de qualidade e pode ter como efeito colateral o desrespeito a profissionais que pertencem a grupos minoritários.
Quanto ao aspecto educacional, a nível municipal isso dificilmente seria discutido, já que esse ente da federação não é responsável por universidades.
Contudo, defendo que as cotas sociais são absolutamente suficientes para a inclusão dos grupos mais necessitados, enquanto não alcançamos a melhora na qualidade do ensino público.
O que realmente pode ajudar a incluir pessoas trans é a naturalidade de convivência com essas pessoas em meios sociais.
O Estado pode ajudar com incentivos que as qualifiquem profissionalmente e as retire das ruas ou da vida de prostituição, que acaba sendo a alternativa pra muitas.
Portanto, os programas para a população trans não são muito diferentes daqueles necessários para a população em situação de rua ou qualquer outro grupo que viva em condições de exclusão social.
As particularidades de cada grupo devem ser observadas pelo agente público, mas isso é muito diferente da segregação estimulada pela esquerda na formulação de políticas públicas.
AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay São Paulo de entrevistar todos os candidatos LGBT à Câmara Municipal de São Paulo.
Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.