Dia dos Pais: gays contam sobre amor e aceitação dos filhos

Sejam naturais, adotivos ou consanguíneos, o carinho ultrapassa barreiras

Publicado em 12/08/2018
Pais gays contam sobre relação com os filhos
O auxiliar de enfermagem Jonathan Gonçalves e os cinco filhos de criação

A diversidade sempre deve ser celebrada e não poderia ser diferente no Dia dos Pais, comemorado neste domingo 12.

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A ideia de que famílias só podem ser construídas com um pai e uma mãe há muito que deixou de fazer sentido.

Casais de homens que criam filhos - sejam biológicos, consanguíneos ou adotivos - multiplicam-se pelo Brasil.

Uma pergunta, no entanto, ronda a cabeça de quem não tem ou ainda pretende ter filhos: como é contar para as crianças que os pais são gays?

A resposta é muito mais simples do que parece. A nossa reportagem ouviu três pais casados com homens que mostram que o preconceito sempre será superado pelo amor.

Adoção tardia: prova dupla de afeto

Ricardo Reis de Faria e Vieira - pais gays falam da relação com os filhos
Os empresários Ricardo e Leandro Reis junto aos filhos, Fernanda e Gabriel

O empresário Ricardo Reis de Faria e Vieira, 30 anos, teve questões a lidar com a filha, Fernanda, hoje com 12 anos.

Ele e o marido, Leandro Reis de Faria e Vieira, 33, que são sócios em um buffet, derão uma dupla prova de amor ao fazerem uma adoção tardia (geralmente, crianças a partir de três anos são preteridas nos centros de adoção por bebês).

"Foi um processo de aceitação, principalmente pra Fernanda que já tinha 'mentalidade' formada e automaticamente tinha o preconceito embutido na cabeça", contou Ricardo à nossa reportagem.

A garota tinha oito anos quando foi adotada pelo casal. "Mas com muito diálogo e preparação ela foi vencendo o preconceito", diz.

"Já o Gabriel, nunca houve problemas, desde o principio ele já nos identificou como pais", contou o empresário sobre o segundo filho, adotado com dois anos de idade e hoje com seis.

"Ele mal sabia falar. Ele nos chamava de 'pá' e aos poucos foi aprendendo a falar pai e papai."

O casal não queria ser identificado como "pai Ricardo" e "pai Léu" pelos filhos e adotou uma forma curiosa.

"Eu sou o papai e meu marido é o pai", revela. "Quando eles gritam 'pai', já sei que estão chamando meu marido e nem me pronuncio. E o contrário também. Se gritam 'papai' sei que é a mim que estão chamando."

Filhos do ex-casamento: todos convivem bem

O empresário Roberto Tostes e o marido Eduardo Saadi junto aos filhos: Pais gays e suas relações de amor com os filhos
O empresário Roberto Tostes com os filhos João e Roberta; e com o marido, Eduardo Saadi

E quando há um casamento desfeito e filhos envolvidos? A aceitação também pode vir mais naturalmente do que se imagina. 

O empresário de produções artísticas e coreógrafo no carnaval carioca Roberto de Barros Tostes, de 51 anos, foi casado por 13 anos e com a ex-mulher teve dois filhos.

Casado já há 15 anos com o DJ e coreógrafo Eduardo Saadi, 45, ele diz que a relação homossexual nunca foi uma questão em casa.

"Nunca cheguei a precisei contar e eles entenderam naturalmente", contou Roberto sobre os filhos Roberta, hoje com 24 anos, e João, 22.

"Eles o amam desde que o conheceram", diz sobre o carinho dos filhos a respeito do marido. 

"Nem a mãe deles indagou algo após o fim do casamento. Porque eu deixei bem claro que nunca durante o casamento havia lhe dado algum motivo para desconfiança, fosse por qualquer motivo", relata.

"Acho que ela ficou sabendo pelos meus próprios filhos. Posso até dizer que ela se dá bem com meu marido, pois já esteve em nossa casa", diz o empresário.

Cinco crianças: famílias desfeitas formam novos laços

O auxiliar de enfermagem Jonathan Gonçalves e os filhos
Jonathan Gonçalves cria um filho da prima e outros quatro de sua irmã.

O que antes era desarmonia e poderia resultar em traumas e infelicidade foi reconstruído pelas mãos do auxiliar de enfermagem Jonathan Gonçalves.

Ele é "pai de criação" de cinco filhos. "Moram comigo, minha mãe e meu companheiro. Juntos conseguimos enfrentar todas as lutas e dificuldades que a vida nos mostra."

"O primeiro que veio em minha vida foi o Davi", conta. "A mãe dele é minha prima e possui retardo mental em grau alto. Eles moravam com meus tios. Não sabemos como, mas ela foi estuprada e ficou grávida."

Jonathan diz que ele e a mãe resolveram criar a criança já que ela seria levada ao conselho tutelar. "No comeco ficamos com medo devidos aos problemas da mãe, e as complicações da gestação e parto com a saúde dele. Ele nasceu prematuro com sete meses. Veio bem pequeno e diagnosticado com atraso intelectual leve."

"Hoje o Davi tem 10 anos e só nos orgulha. Está na quinta série, possui algumas dificuldades, mas está cada vez mais forte e inteligente e enfrenta tudo."

Se uma prova de amor já não fosse suficiente para mostrar a grandeza do auxiliar de enfermagem, ele daria ainda mais quatro delas. 

"Meus outros quatro filhos são de minha irmã mais velha", relata. "Por problemas psicológicos e pessoais, ela teve quatro filhos de pais diferentes."

"Sem estrutura nem condição para criá-los e educá-los, ela deixou as crianças comigo e minha mãe", diz Jonathan sobre os filhos José Vinícius, 10; Emilly, seis; Camily Vitória, quatro; e Anderson David, um ano.

Jonathan conta que todos sabem de sua orientação sexual. "Há uns três anos, um amigo chamou um deles de gay e resolvi conversar com eles. Primeiro contei para os mais velhos. Como foi tranquilo, contei também para os mais novos."

"Eu disse: 'Você sabem que o pai é casado com o tio Mario?' Eles: 'Sim'. 'Vocês sabem que o pai é gay?' Eles: 'Sim'. 'O pai é ruim?' Eles disseram não. 'Então, ser gay não é ruim não é um xingamento. Quando alguém te chamar de gay, ignore. Ou apenas diga que não é e se fosse seria normal pois não tem nada de errado'."


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