Gay e jornalista, William De Lucca, leva o nome De Lucca na urna nas eleições do domingo 15 de novembro. Com trajetória ligada à esquerda, com atuação em veículos de comunicação e já escolhido uma das pessoas LGBT mais Influentes do Brasil justamente por isso, seu objetivo agora é chegar à Câmara Municipal pelo Partido dos Trabalhadores.
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Ao falar de São Paulo e LGBT, ele lembra que o título que a cidade possui de ter a maior rede de serviços para o segmento no Brasil é fruto de gestões petistas.
Mesmo assim, ele defende que há o que ser feito, tal como fortalecer o Transcidadania, que insere pessoas trans no mercado de trabalho, e tornar o Largo do Arouche oficialmente um bairro LGBT.
Confira entrevista com o canditato:
O Brasil é um dos países mais avançados do mundo em direitos LGBT. E São Paulo é a cidade do Brasil com mais serviços sociais para o segmento no País. Em que acha que seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris?
Discordo que o país seja um dos mais avançados nos direitos LGBT. Nossas conquistas vieram através do Judiciário, não via Legislativo. Ou seja: são conquistas frágeis, que podem ser revertidas a qualquer momento se o cenário do Judiciário mudar.
Neste contexto, vou lutar, na Câmara de Vereadores de São Paulo para que políticas públicas voltadas para nossa comunidade sejam garantidas na forma de lei e de dotação aprovada na votação do orçamento municipal que acontece todo final de ano.
Temos, por exemplo, que restabelecer o Transcidadania, garantindo emprego, renda, inserção social e dignidade para travestis e transexuais; criar um programa de educação para a diversidade, capacitando professores e demais profissionais da rede municipal de ensino para tratar o tema nas escolas; oficializar o Arouche como um "Bairro LGBT", levando políticas de fomento ao empreendedorismo, segurança pública com foco na diversidade e instalando um centro de cidadania na região para que trabalhadores, moradores e frequentadores tenham acesso a informação de saúde e direitos...
Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do PT. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
Como você mesmo disse na pergunta anterior, São Paulo oferece série de serviços à comunidade LGBT, e muitos deles são legados dos governos petistas na cidade! O Transcidadania, por exemplo, foi criado no governo Fernando Haddad – e desmontado sistematicamente nos governos Doria e Covas.
O De Braços Abertos, também criado por Haddad, atende dependentes químicos em situação de rua e vulnerabilidade, e muitos dos assistidos pelo programa são LGBT. Assim, com uma bancada forte na Câmara, teremos mais condições de avançar nestas e em outras pautas, que são fundamentais para nossa comunidade e toda a cidade de São Paulo.
Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas à população de São Paulo?
No campo do meio ambiente e urbanismo, vamos propor a despavimentação de áreas onde não há necessidade de asfalto e concreto, de modo a facilitar o escoamento de água da chuva, evitando alagamentos; cobrar a plantação de árvores frutíferas e incentivos à criação de hortas comunitárias, melhorando os impactos ambientais e alimentares.
No campo da assistência social, defendemos ampliação de vagas nos abrigos já existentes para população em situação de rua, além da criação de novos, em especial voltados para população mais vulnerável, como dependentes químicos e pessoas com transtornos psiquiátricos.
E para motoristas e entregadores de aplicativo, vamos propor uma lei que obrigue as empresas que operam na cidade a criar pontos de apoio em diferentes regiões. Serão espaços com banheiro, refeitório e acesso a água filtrada, para que estes trabalhadores possam suprir suas necessidades básicas durante a jornada de trabalho.
Petistas acusam a imprensa de ser golpista e ter tido responsabilidade na queda de Dilma Rousseff. Desde 2018, bolsonaristas passaram a fazer críticas semelhantes contra a imprensa. Você como jornalista e petista, onde se coloca no debate entre a liberdade de informar e a sanha de que a mídia só fale bem de que quem está no poder?
A liberdade de informar é um direito constitucional e, como jornalista, eu defendo que ela seja exercida de forma responsável. A análise sobre a cobertura da imprensa em relação ao golpe contra a presidenta Dilma e o processo ilegal de perseguição ao presidente Lula pode ser feita de forma muito prática: basta observar como outros casos foram tratados em comparação a estes.
Eu acho que a imprensa tem que exercer o seu papel de informar, de opinar e criticar o que precisa ser criticado. Mas é necessário haver um balanço e respeito à democracia. A imprensa não pode fazer um ativismo contra a Presidência da República, não pode fazer um ativismo contra o Partido dos Trabalhadores como a gente vê em muitos casos. É preciso que seja isenta, e não criar narrativas contra determinados partidos políticos.
O PT é fortemente ligado a sindicatos. Você na Câmara vai apoiar toda demanda de sindicatos mesmo que o pedido deles possa significar mais custos para a população?Exemplo seria o fim da função de cobrança no transporte público para uso de meios eletrônicos.
Eu trabalho há cinco anos como jornalista sindical, por isso tenho grande respeito às demandas dos sindicatos que são, em última análise, demandas dos próprios trabalhadores representados por estas entidades.
Os sindicatos, em princípio, não atuam sozinhos: as decisões em geral são tomadas pela própria categoria em assembleia, e as entidades levam as demandas às instâncias adequadas. Neste sentido, as demandas trazidas pelos sindicatos devem, sim, ser discutidas com toda seriedade na Câmara de Vereadores.
Agora, quanto ao fim da função do cobrador no transporte público, há um discurso de que é responsabilidade destes trabalhadores a alta no preço das tarifas, o que não faz sentido algum.
As empresas de transporte público têm lucros exorbitantes e subsídios públicos para operar, devendo no mínimo, em contrapartida, oferecer um serviço de qualidade e garantir empregos.
A Câmara de Vereadores tem de trabalhar junto à Prefeitura para cobrar menos de quem ganha menos, e mais de quem ganha muito. Isso é fazer com que o Estado seja um indutor de justiça social e redistribuição de riqueza.
Então, todos os projetos que eu vou apoiar na Câmara, e que são também as pautas do movimento sindical, vão neste sentido.
AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay São Paulo de entrevistar todos os candidatos LGBT à Câmara Municipal de São Paulo.
Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.