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Candidata a vereadora Alexya Salvador é trans e reverenda

Com série de conquistas na trajetória pessoal, psolista rebate quem critica religião na política

Publicado em 03/11/2020
Travesti e reverenda Alexya Salvador é candidata a vereadora pelo Psol em São Paulo
'Quero ser eleita pela minha biografia de luta e pelo o que eu posso fazer pela cidade'

Fazer história é algo frequente para a candidata a vereadora pelo Psol em São Paulo Alexya Salvador

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Ela foi a primeira travesti na América Latina ordenada reverenda, pela Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM). Além disso, essa bacharel em Letras, Pedagogia e Teologia foi a única pessoa trans a ser pré-candidata a vice-prefeita da capital. 

Sua família também é marcada por conquistas. Ana Maria, atualmente com 13 anos, foi a segunda criança trans a ter documentos retificados no Brasil. Dayse, 9 anos, é também uma menina trans. Ambas estão em processo de adoção. Há ainda Gabriel, de 15 anos e com deficiência. 

Com 39 anos de idade, Alexya trabalha com pessoas em situação de rua desde os 18 anos dentro de instituições religiosas. Dentre seus desafios, está o de superar discurso da esquerda de que religião não deve se misturar com política, algo sobre o qual ela fala nessa entrevista. 

O Brasil é um dos países mais avançados do mundo em direitos LGBT. E São Paulo é a cidade do Brasil com mais serviços sociais para o segmento no País. Em que acha que seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris?
Eu acredito que meu mandato pode contribuir para ampliar esses serviços. Ter um mandato de uma travesti preta na Câmara Municipal de São Paulo vai comunicar que, sim, São Paulo é pioneira em todos os assuntos relacionados à comunidade LGBTQIA+, principalmente no que diz respeito à cidadania, representatividade e empoderamento.

Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do Psol. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
O partido tem como compromisso políticas públicas na defesa e na promoção das vidas LGBTQIA+. Tanto é qiue a representatividade de pessoas LGBTQIA+ dentro do partido no País todo é muito forte.

Claro que sabemos que também o Psol precisa avançar em muitas questões relacionadas à comunidade. Sabemos que existe, sim, homofobia dentro do partido, existe transfobia dentro do partido. Entretanto, na atual conjuntura, quando nós olhamos para todos os partidos, se a gente colocar um panorama partidário, o Psol é o que mais apresenta propostas para o segmento.

O Psol é o que dialoga, tanto é que a primeira deputada trans em São Paulo é eleita pelo Psol [Erica Malunguinho]. Tudo isso nós valorizamos mas entendemos que o partido precisa avançar em muitas questões de respeito, de acolhimento.

Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas à população de São Paulo?
A primeira é em relação a escola pública. A realidade da educação no municiípio de São Paulo é muito parecida com a do Estado. Uma vez que a retirada de direitos por parte do PSDB também acontece com os professores da rede municipal. As nossas propostas vêm ao encontro do reajuste salarial, do melhor plano de carreira, da valorização do magistério público, do ampliação dos serviços educacionais, por exemplo a EJA, que é a educação de jovens e adultos.

Outra bandeira é a adoção. A gente sabe que nesse período eleitoral nenhum candidato traz propostas voltadas para o investimento nos abrigos do município e casas de acolhimento. A gente sabe o quanto há cabide de emprego nos abrigos e não há políticas públicas que de fato abarquem essas realidades e que promovam as famílias adotivas. Ao contrário, há pessoas da extrema-direita que querem retirar esses direitos, como licença-adoção, licença-maternidade, licença-paternidade ampliada para os servidores do município.

Então, a gente traz essas propostas de ampliação de seguridade para que as famílias adotivas encontrem acolhimento durante esse processo e que as crianças possam ter uma casa de acolhimento digna, de qualidade.

No mais, que os profissionais desses serviços passem constantemente por reciclagem e por capacitação. E sabemos o quanto crianças LGBT sofrem dentro dos abrigos do município. Sei o quanto é urgente criar políticas públicas que defendam essas crianças, principalmente crianças trans. 

Olhando seus canais oficiais, percebemos que há grande foco em sua biografia, mas poucas propostas. Você quer ser eleita pelo que você é ou pelo que você tem a fazer por São Paulo?
Tem sim as propostas de educação, de saúde, de trabalho, principalmente nas lives eu falo muito. É claro que eu dou muito enfoque, sim, na minha biografia. Ser a primeira travesti que adota no Brasil, e hoje mãe de um menino com deficiência e duas meninas trans... Eu tenho que focar nisso, eu rompi um paradigma histórico.

Ser a primeira reverenda travesti da América Latina no país que mais mata travestis, com transfobia causada pela religião, é, sim, um marcador da minha biografia.

Eu quero ser eleita pela minha biografia de luta, pela minha história, sim, e pelo o que eu posso fazer pela cidade de São Paulo. Eu não sou só uma travesti, que adotou e que é pastora. Eu também vou saber dialogar, eu também sei falar de economia, de segurança, de saúde, de saneamento, de transporte. 

Há uma movimentação de que religião não deveria se envolver com política para que fé e política não se misturassem. O que você pensa dessa crítica?
Realmente, algumas pessoas me dizem nas redes sociais que não votar em mim porque eu sou uma liderança religiosa, porque eu sou uma reverenda. Eu compreendo que historicamente pastores, pastoras, padres, bispos que chegaram nesses espaços de poder nos envergonharam. Porque usaram da religião pra transformar a democracia em teocracia. Usaram da religião para impor seus dogmas e catequisar as pessoas.

E por que eu estou vindo como reverenda? Justamente para ser a oposição à bancada evangélica fundamentalista que existe na Câmara Municipal de São Paulo. Sou a pessoa preparada para dialogar com essas pessoas que usam a fé pra demonizar, pra segregar e pra dizer que nós não podemos alcançar direitos fundamentais. 

Quem critica não para pra pensar que eu sou uma reverenda travesti que faz parte de uma igreja americana que está presente em 33 países, que tem um trabalho há 52 anos de militância pelos direitos humanos, que é uma igreja que não dogmatiza as pessoas.

A gente tem que avançar, entender que não podemos cometer o erro que a esquerda cometeu desde sempre que é o não-diálogo com as lideranças religiosas. Nós somos um país religiosa, de maioria cristã, então nós precisamos, sim, garantir a presença de pessoas, lideranças religiosas comprometidas com a vida, que não são fundamentalistas.

AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay São Paulo de entrevistar todos os candidatos LGBT à Câmara Municipal de São Paulo.

Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.

Acompanhe todas as entrevistas e reportagens sobre as eleições na editoria Eleições 2020 clicando aqui.


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