Após 19 anos, Grind deixa A Lôca e anuncia novo local

André Pomba, criador da festa, esclarece saída do clube da Frei Caneca, mas já fala do futuro de seus projetos

Publicado em 31/03/2017
Marco da noite gay: Festa Grind deixa Alôca após 19 anos na Rua Frei Caneca
Templo de performances, shows e boa música, Grind deixa clube da Frei Caneca

Poucas festas representaram mais para a noite LGBT paulistana do que a Grind. O projeto que revolucionou o cenário arco-íris da cidade - desassociando lugares gays de música eletrônica, deixará A Lôca após 19 anos. Lágrimas sim, mas comece a abrir o sorriso: já está certa a continuidade em novo local.

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Ao Guia Gay São Paulo, o ativista e agitador cultural André Pomba, responsável pelo projeto Grind, contou o motivo porque deixa o famoso inferninho da Rua Frei Caneca, fala dos novos planos, para onde irá a sua outra festa, a Loucuras, e um pouco da importância de suas iniciativas que inspiraram inúmeros outros Brasil afora e consagraram a "Gay Caneca", como uma das ruas mais arco-íris do País.

Grind: famosa festa gay de André Pomba deixa Alôca e vai para o Espaço Desmanche
André Pomba, que agitou as pick-ups por 19 anos na Lôca

Por que a saída d'A Lôca?
Na real, minha relação com A Lôca praticamente era uma relação familiar, pois completei 19 anos de casa. E como tal, quando você pesa de um lado o tesão e do outro a conveniência, deu pra verificar, principalmente no último ano, que as intenções não batiam mais, porém um rompimento sempre é complicado.

É evidente que o problema financeiro com a crise que o Brasil passa foi o que mais pesou na saída, mas também divergências com relação à parte artística e administrativa se acentuaram a um ponto que quando se quebra uma confiança não tinha mais como continuar.

A saída é o fim do projeto Grind?
Não! A domingueira Grind irá para o Espaço Desmanche na Rua Augusta, onde era o antigo Vegas. Estrearemos em 9 de abril, comemorando meu aniversário. Também tenho muitos seguidores para a festa Loucuras, às quintas, que eu criei também, mas isso demanda uma repaginada maior no projeto com outro nome, já que foi a festa pop pioneira que impulsionou toda uma cena.

As quintas recomeçam em 13 de abril no remake do Clube Nation, pioneira casa clubber de São Paulo, que voltou a funcionar no mesmo endereço, mas na parte dos Jardins da Rua Augusta.

Como foi sua despedida?
Não teve nem tempo pra despedida (rs)! Já é passado, bola pra frente!

Cite alguns dos momentos incríveis e/ou inusitados nestes 19 anos.
Olha, quando o Grind completou 5 anos em 2003, estávamos no auge e fizemos um mês de festas e trouxemos cantoras como Maria Alcina, Lady Zu, Perla, Rosanah e Gretchen para shows no palquinho da A Lôca. Foram momentos históricos e antológicos. Gretchen estava no oitavo mês de gravidez e diziam que ela ia parir no palco (risos).

O que você acha que o Grind ajudou a construir na noite LGBT de SP? Qual o legado?
Olha o principal legado foi que mostramos que o LGBT não precisava somente de música eletrônica ou bate-cabelo em uma festa GLS (termo à época, 1998). Com isso o Grind foi uma revolução na noite naquela virada de milênio. A partir daí toda uma cena foi redesenhada e influenciamos não só o meio LGBT como o meio do rock como um todo.

Um dos meus maiores orgulhos é quando vou hoje numa balada ou show de rock e vejo garotos gays e meninas lésbicas se beijando e de mãos dadas. Em um meio tido como misógino, machista e homofóbico, o Grind foi a primeira sementinha a derrubar esse tipo de preconceito.

E quais seus planos?
Visto que, como promoter, eu era exclusivo da A Lôca, todo esse trabalho (organização, produção, divulgação, promoção, direção artística) me consumia praticamente todos os dias. Agora terei tempo de me dedicar mais ao ativismo durante a semana, reservando os finais de semana para discotecagens e projetos em outras casas. Recebi umas propostas para atuar como gestor público e em breve terei novidades também.


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