Texto: Welton Trindade - Fotos: Gil Brunai
A senhora Maju, da previsão do tempo do Jornal Nacional, passou a semana a vaticinar que cairia chuva pesada no domingo 29 na capital paulista. Dava até medo de pensar em ir à 20ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo! O que aconteceu?
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Do céu, gota alguma! Do chão é que subiram balões coloridos. E o que se viu foi muita alegria, confraternização e consciência política. Deu foi tristeza saber que a marcha - uma das melhores dos últimos anos - teria fim.
A parada histórica começou ainda pela manhã com gravação em frente ao Shopping Paulista de cenas para o seriado Sense8, já marcador de uma geração de LGBT. Tudo em cima do trio da própria atração, que mais tarde também desfilou.
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Houve cena de beijo gay e os fãs enlouquereceram. E ter São Paulo como locação para a série é divulgação incrível da cidade como destino turístico arco-íris. La-cra-ção da prefeitura, que intermediou o processo!
A Avenida Paulista ia se enchendo aos poucos até que às 13h, a drag queen Tchaka, um pouco nervosa, abriu o evento em cima do primeiro trio e pediu vaia contra a discriminação. E foi bem atendida!
Honrando o tema da caminhada - a Lei de Identidade de Gênero, que tramita no Congresso Nacional -, o ativista que dá nome à proposta, João W. Nery discursou. "Esse projeto é importante porque com ele nós transexuais poderemos ter nossa identidade respeitada mesmo sem ter feito cirurgia, hormonização e sem laudo psiquiátrico dizendo que somos loucos."
A conexão com a capital do Brasil continuou com o deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ). "Aqui não é só festa, mas também é momento de política." Ao fim proclamou "Fora Temer". O público repetiu a frase seguidamente. E como a rejeição ao presidente interino foi tônica em toda a parada! "Amar sem Temer" foi o melhor trocadilho.
Representante do Instituto Brasíleiro de Transmasculinidades (Ibrat) falou contra o estupro, que afeta tanto os homens transexuais. Representante da Prefeitura, o secretário de Direitos Humanos Felipe de Paula reforçou a vocação paulistana para viver em diversidade.
No chão, o abre-alas da parada foi a igreja inclusiva Cidade de Refúgio, com um exército de camisetas verdes, panfletagem e até coreografia. Atrás, a entidade Mães pela Diversidade, sempre muito acarinhada pelo público. Registro importante: a enorme bandeira trans atrás do primeiro trio. Inédita!
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Nos 17 trios, todos com o tema do evento em destaque -, banner em defesa de gays afeminados, go-go boys, mais faixas Fora Temer, elenco de Sense8 e o novo protesto de Viviany Beloboni - crucificada em 2015 e agora em simulação de estátua da Justiça em que um livro preto forrado de dinheiro e com o nome Bancada Evangélica na capa desequilibra a balança da igualdade.
O que também fica como divisor histórico desta parada é a grande participação de empresas. Patrocínio da marca mais valiosa do Brasil, a Skol, apoio da Kibon, Bob's e Caixa, camarote no hotel Ibis, presença da Microsoft e Google...
E, como sempre, o que há de maior são as pessoas que vão com os amigos, sozinhas, em famílias, com o pet, sem camisa, fantasiadas, com adesivos, disponíveis para beijo, vocacionadas para o grito de protesto.
Maju, veja se acerta no ano que vem: a previsão é de uma grande manifestação brilhante e firme com tudo o que há de bom na vida, e sem medo algum de qualquer nuvem carregada de coisas desumanas e retrógradas!