Marcio Claesen
Muito comum em cidades como São Francisco, Amsterdã ou Berlim, a cena leather encontra barreiras - naturais e culturais - no Brasil. Ainda assim, os adeptos da prática contam com eventos com certa frequência em São Paulo e a cena do couro e S&M mostra que tem fôlego para muito mais.
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No último dia 09 a festa Leather Night completou 10 anos e lotou o Playground, misto de bar e sex club estiloso na Rua Augusta, com boa parte dos clientes a caráter (leia-se completa ou parcialmente vestidos com roupas e acessórios de couro).
A festa, que começou no extinto sex club de Pinheiros, Station, ficou alguns anos na Peep Lounge e já tem nova edição marcada para continuar a comemoração de sua primeira década. Será no sábado, 22, na Wild Thermas Club - a mesma que faz sucesso com o encontro Clube dos Pauzudos. (Veja mais informações sobre o evento em nossa Agenda).
Carlos Leatherboy, organizador do evento, contou ao Guia Gay São Paulo que se orgulha de como as pessoas têm se produzido cada vez mais para suas festas, que têm público, segundo ele, 70% leather e 30% BDSM (sigla que inclui adeptos de bondage, dominação, submissão e sadomasoquismo).
Bioquímico, Carlos é um apaixonado pelo universo do couro, que ele define tanto como "uma moda erótica que expressa valores elevados de masculinidade ou de apropriação de poder sexual", quanto "o gosto por sentir a textura do couro na pele".
O fetiche por leather, no entanto, enfrenta desafios por aqui. Um deles é a temperatura. O clima subtropical não é exatamente um amigo do couro, material que esquenta o corpo, e faz com que muitos adeptos da prática prefiram esperar por dias amenos para sair a caráter.
Outra diferença/dificuldade da cena de São Paulo e de países do hemisfério norte é cultural. "A nossa moral cristã é muito arraigada. Isso causa grandes limitações para o modelo S&M que tentamos importar", diz o ilustrador e pornógrafo Nerone Prandi. "Sexo no Brasil é visto como algo que denuncia o caráter da pessoa", lamenta.
Encontrar couro de boa qualidade é outro empecilho. Em geral, adeptos do leather compram roupas em viagens fora do País ou por encomenda pela internet.
Nerone, fetichista assumido e usuário de couro no dia-a-dia, organiza a Fast Drip, festa que flerta com as tribos S&M e bear, cuja próxima edição ocorre em 13 de abril, no Playground.
Frequentador desde o início da Leather Night, o dentista Mauro Honda avalia que a festa melhorou desde que estreou no cruising bar da Augusta e afirma que há clientes que vão desde o começo, mas há muitos que chegam agora, inclusive de outros Estados.
Curitiba e Rio, aliás, estão nos planos de Leatherboy para receberem sua Leather Night. Outras capitais têm ainda mais dificuldade de festas temáticas fixas. Em São Paulo, há também algumas que não são focadas apenas no público gay ou leather.
O RG Bar conta com alguns frequentadores a caráter nas noites de sábado, mas o protagonista é outro fetiche: o fist fucking.
Já a Nights in Black Leather, às quintas, no Playground (ele de novo) se pretende mista, algo que parte dos gays rejeita. Assim também é a conhecida Luxúria, cuja última edição ocorreu no Templo Club, sábado, 15.
E sem perder o trocadilho, parece que a cena leather e S&M vai perder as amarras. "Vejo que existem pessoas mais dispostas e menos moralistas hoje em dia", aposta Neroni.