O triângulo amoroso entre um professor de música, sua mulher e seu aluno é o tema Só... Entre Nós, espetáculo que reestreia em São Paulo no sábado 2 no Centro Compartilhado de Criação (CCC).
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A ideia da peça surgiu, conta o autor, Franz Keppler, após uma noite de inverno na casa de amigos. "Na volta para casa na madrugada fria, a melancolia do clima, o medo das perdas, a lembrança dos amores que terminaram, o vazio das ausências preenchido pelas memórias. Fui dormir embalado por todas essas sensações", explica Keppler. "Na manhã seguinte, senti uma vontade enorme de escrever sobre tudo isso. As palavras foram surgindo no computador e, aos poucos, Só... Entre Nós foi se transformando em uma peça."
Joca Andreazza, que dirige a montagem, tem dentre suas referências para a encenação as telas do pintor Edward Hopper, que tratam de solidão e onde o telespectador assume a figura de um voyer por meio de uma janela.
"A encenação procura respeitar, acima de tudo, autor, atores e público: o primeiro por não querer ser maior que a poesia dura e urbana do tema dos encontros e desencontros (que não obedecem a cronologia dos fatos) e sinalizam a solidão como legado das relações humanas nos grandes centros; o segundo por mostrar os atores como protagonistas da cena teatral (esquecidos pelo teatro pós-dramático, no qual apenas o encenador aparece aos olhos dos espectadores); e o terceiro pela constatação de que tudo que ultrapassa a duração da atenção que o ser humano presta à obra de arte não constitui um poema", afirma Andreazza.
Quando Andreazza foi convidado para assumir a direção, a peça já tinha sido apresentada numa edição do Satiryanas em versão mais curta. "Peguei aqueles 17 minutos iniciais e tive que trabalhar ideias para que eles se transformassem em uma peça de fato. O texto do Franz e a ideia já estavam lá, pincelei a encenação com o congelamento dos atores, desenhados em progressões de novos jogos de aproximação e distâncias. A cena é estruturada em linhas de uma geometria imaginária que amplia as ausências e os silêncios ora de um, ora de outro personagem, provocando encontros que rompem a temporalidade linear previsível do tempo, para determinar na atemporalidade a sustentação de uma poética que se confirma no sentir, não mais pela ação", explica.
A trilha sonora é composta unicamente da Suíte n°1 para Violoncelo, de Bach, intrinsicamente ligada à ação da peça e às lembranças dos personagens e permeia também a movimentação dos atores em cena. Composta por Bach entre 1717 e 1723, essa é uma das peças mais intensas emocionalmente do repertório barroco, aproveitando-se ao máximo da profundidade emocional do violoncelo através de uma enorme variedade de técnicas. Em seis movimentos, a obra age como uma conversação musical – passagens agudas são ecoadas por reflexões tocadas em tom grave e acordes densos acompanhados por delicados floreios ornamentais. Seu movimento mais famoso, o prelúdio, é um grande exemplo da genialidade de Bach. Não há acompanhamento, mas a harmonia se constrói nota a nota como uma jornada musical na qual notas são insinuadas mais do que tocadas.
No elenco do espetáculo estão Marcia Nemer-Jentzsch, Tiago Martelli e Vitor Placca. A temporada - aos sábados e domingos - vai 24 de julho. Mais informações - como horários e valores - você tem em nossa Agenda clicando aqui.