LGBT devem lutar contra o impeachment de Dilma?

A tal Coração Valente só usa o movimento LGBT para salvar seu pescoço. Depois? O descarte

Publicado em 04/12/2015
dilma rousseff impeachment
Quando precisa, finge nos ouvir. Quando pode agir, o faz opostamente ao que demandamos 

Por Welton Trindade

Antes de mais nada, para acalmar a fúria vermelha, vamos a alguns dados:

1) Só existe impeachment de alguém que venceu as eleições, ok? Portanto, a história de que "fui eleita e ninguém me tira" não cola até por motívos lógicos aqui. 

2) PT pediu impeachment de Collor, Itamar e FHC. Assim, fica bem feio dizer que a arma d'antes agora é golpe. 

Espíritos um pouco mais calmos, vejamos para além do vermelho e agreguemos mais cinco cores para termos o arco-íris!

A pergunta é: LGBT, enquanto tais, devem lutar nas ruas contra o impeachment de Dilma Vana Rousseff? 

A resposta é perfeitamente (e tragicamente, adianta-se) estruturada por fatos. 

Manifestações de 2013 - Tomados por uma mal-estar político e social, centenas de milhares de pessoas foram às ruas de várias cidades do Brasil contra tudo o que estava posto. LGBT, que já estavam no asfalto vindos de ações contra Marco Feliciano (PSC-SP), continuaram aí e engrossaram o grito de indignação. 

Sabe a Dilma que vetou o kit contra homofobia? A Dilma que cancelou campanhas de prevenção de DST/aids para jovens gays e bi? Botaram na mão dela um roteiro para ela salvar-se daquela convulsão: "Chame os movimentos sociais!" Nessa onda, convocaram entidades LGBT para uma conversa.

Demandas expostas... Fingimento de Dilma em ouvir mais fulgaz do que o flash da foto cheia de ativistas petistas que tomam conta do movimento LGBT. E só! Histórico e vergonhoso, na saída da reunião, nem a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, nem ativistas conseguirem proferir uma promessa efetiva de Dilma com as pautas apresentadas. 

Eleições 2014 - E não é que, por volta de um ano depois, Dilma lembrou que viado, sapata e trava existiam? Pois é! Razão? A polarização criada pelo PT entre "direita e esquerda" (como se Michel Temer tivesse sonhos eróticos com Karl Marx) fez os marketeiros da Coração Valente (que piada!) traçar a estratégia: "Cole nos movimentos sociais. Prometa mundos e fundos. Depois, ah, depois continue a ser como você sempre governou." 

Até petistas ficaram boquiabertos: após três anos e meio de governo, Dilma passou a falar a palavra homofobia dia sim e dia também por... umas duas semanas. Criminalização da homofobia, ponto sobre qual ela nunca tinha movido uma palha a favor, virou - olhe o nível de embuste - promessa de campanha. Jean Wyllys, coitado, hoje se ressente com joelhos ao milho pelo apoio dado a tal. 

Impeachment 2015 - Aqui está a motivação deste texto. Núcleo de salvamento político de Dilma já determinou que se deve convocar os movimentos sociais para defender a reprovação do pedido de impedimento da mandatária. Movimentos sociais que não foram ouvidos quando Dilma acabou com ministérios de direitos humanos (embora isso não faça a mínima diferença em termos práticos). Movimentos sociais que não viram sinalização alguma de Dilma durante o primeiro ano de mandato. 

Ah, sim, nós LGBT existimos para Dilma este ano. Quando? Ao ela permitir que Aloísio Mercadante, então na Casa Civil, obrigasse o na época ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, a descriar o Comitê de Gênero, órgão importante para travestis e transexuais. 

Viram os fatos? Dilma só chama e finge estar conosco quando sua inabilidade política a enforca ou quando ela está sob risco. Passado o perigo, voltamos a ser vintém perto do quanto ela dá valor à bancada evangélica, por exemplo. 

Dilma pede mão estendida a nós LGBT. Devemos dar a mão tal qual ela nos deu: vazia e incompromissada. 

PS.: Para não dizer que não falei de flores: #ForaCunha


Parceiros:Lisbon Gay Circuit Porto Gay Circuit
© Todos direitos reservados à Guiya Editora. Vedada a reprodução e/ou publicação parcial ou integral do conteúdo de qualquer área do site sem autorização.