Por Marcio Claesen
Movimento que mudou a história da luta pelos direitos arco-íris, a Revolta de Stonewall é tema de filme bem intencionado, mas irregular, que estreia nesta quinta-feira 29 em São Paulo.
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Em Stonewall - Onde o Orgulho Começou, Roland Emmerich (de blockbusters como 2012 e Independence Day), deixa de lado os efeitos especiais que o consagragram nos blockbusters e envereda pelo terreno das emoções.
O longa conta como um adolescente do interior dos Estados Unidos, Danny Winters (Jeremy Irvine), expulso de casa após um romance com um colega de escola, vai parar em Nova York, em meio ao frenesi do Greenwich Village, à época, o bairro mais arco-íris da cidade, e se envolve com o ativismo LGBT.
Em sua exibição lá fora, no ano passado, 'Stonewall' foi duramente criticado e alvo de boicote. O motivo: o filme foi acusado de embranquecer a história contando os fatos pelo prisma de um menino cisgênero, loiro e bem nascido, em detrimento dos muitos negros, latinos e transexuais que teriam tido papel mais preponderante no episódio.
Não há consenso sobre quantas e quais pessoas participaram efetivamente da revolta, mas historiadores concordam que drag queens, lésbicas masculinizadas, travestis, transexuais e negros eram maioria.
O cineasta se defendeu dizendo que não fez um filme apenas para homossexuais, mas para todos, o que parece querer dizer que muitos não iriam ver uma produção encabeçada por elenco não-branco e não-cisgênero.
A despeito dessa controvérsia - que não é pouca coisa - o problema maior de 'Stonewall' passa por outra seara: o roteiro. Acostumado a histórias superficiais, Emmerich recheou seu longa com um abuso de clichês que lhe trouxeram fama e público nos Cinemark do mundo. Muitas das sequências são previsíveis, antecipadas por olhares, diálogos e situações.
Um embróglio que envolve o FBI (a polícia federal norte-americana) parece deslocado, ainda que o diretor justifique que houve alegações reais disso no caso. Quisesse ter mesmo levantado a questão, ele deveria ter se aprofundado ou a tratado de forma irõnica - cômica até - com intuito de crítica.
Salvam-se a trilha sonora - há até canção em português (a bela Amor do Carnaval) em um momento sexual - e o elenco que tenta com alguma dignidade dar nuances e intenções concretas a uma história que não se permite examinação mais profunda.
Ainda assim, fica a boa intenção de Emmerich, gay assumido, de contar um parte importante dos seus: o dia em que gays, lésbicas e trans, cansados das batidas policiais e de serem tratados como lixo, revidaram e exigiram respeito. Mas o cinema não se reume a boas intenções.
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