Foco da parada, trans se abstêm de integrar organização do evento

Única não-cis presente em evento diz sofrer ameaça de ativistas travestis e transexuais por integrar trabalho

Publicado em 10/05/2016
20 parada orgulho lgbt são paulo
Encontros da organizaçao são abertos à participação de qualquer pessoa. Gays são ampla maioria

Sábado, 7 de maio. São quase 17h e cerca de 40 pessoas estão em sala ampla da sede da União Geral dos Trabalhadores, na Bela Vista, desde as 14h discutindo pontos importantes da organização da 20ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a ser realizada no dia 29.

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Pela segunda vez, a cidadania de travestis e transexuais é o foco da marcha - quer-se aprovação da Lei João W. Nery, que trata do reconhecimento da identidade de gênero. Entretanto, quantas são elas/es na reunião? Apenas uma! Cerca de 10 são mulheres cis - boa parte não como ativistas, mas como representantes de órgãos e a trabalho. Todo o restante praticamente são homens cis gays ou bissexuais. Por que esses números? 

Integrante do grupo de trabalho da juventude, Elvis Justino, lembra que não foi sempre assim. "Quando as reuniões de organização começaram, em outubro de 2015, nas três primeiras, as e os trans eram muitos. Entretanto, depois de ter definido que o tema seria a lei de identidade de gênero, praticamente deixaram de vir."

As reuniões, a do sábado relatado foi a 14ª, são abertas e divulgadas nas redes sociais da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. "Quem quiser participar, a porta sempre está aberta. E esse processo vem de meses". explica o presidente da entidade, Fernando Quaresma. Para os segmentos, houve não só abertura para aceitar ajuda, mas também convites diretos, diz o ativista. 

"E por que as e os trans não estão aqui?", é a pergunta seguinte a Quaresma. A resposta: "Fizemos nossa parte. Convidamos e estamos sempre abertos, os encontros são públicos e qualquer pessoa pode integrar, o que posso dizer é isso." 

A falta é sentida. Elvis dá exemplo. "Acabei de ter de falar sobre uma questão de homens trans. Vi um ponto importante e eu mesmo falei. Não tem nenhum deles aqui. Eu, um gay cis, tive de fazer isso. E ainda há quem depois diga que a parada é GGGG [focada em gays]. Por que não vieram? Os gays estão aqui trabalhando!" 

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A única trans presente está na mesa de coordenação dos trabalhos. É Viviany Beleboni, que se transformou em figura nacional e internacional em 2015 ao sair na marcha crucificada para denunciar a violência contra LGBT. 

A conversa com ela revela que o cenário é ainda pior. "Estou aqui porque quero trabalhar pela parada. E você não sabe da maior: as trans ativistas de Facebook, de blog, que fazem ativismo de teclado me criticam por eu estar aqui! Veja bem! Até ameaça delas tenho recebido. Pois venho sim! Uma pena ter só eu, seria ótimo ter outras trans, até para colocarmos mais pontos sobre nossa vivência, mas, enfim, minha parte estou fazendo." 

Sobre a crítica de algumas ativistas trans de que a parada seria GGGG, Viviany discorda. "Aqui há gays defendendo as trans! Fazendo a parada sobre um assunto importante para as e os trans. Essa é a verdade! O resto é vitimismo. Esse ano elas não podem reclamar! Todo o processo foi aberto à participação, mas preferem até atacar quem veio."

Um dos participantes desde o início do processo, o servidor público Felipe Oliva, gays cis, integra o grupo de trabalho de política, que tem dez integrantes, nenhum trans masculino ou feminino. Sua opinião sobre a ausência de travestis e transexuais vai em outro sentido. 

"A culpa é nossa [dos gays]. Temos de fazer um ambiente em que elas e eles sintam acolhimento. Não basta abrir as portas nem ter a cidadania do segmento como tema principal." 

Procurada, a maior entidade do segmento, o Fórum Paulista de Travestis e Transexuais, não respondeu ao pedido de entrevista. 


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