Ao traçar como meta o primeiro lugar no pódio, um atleta tem o grande desafio de vencer a si mesmo e estar além dos concorrentes. Entretanto, a história do esporte também guarda lugares para quem vence e compartilha sua vitória. O mineiro Henrique Seoldo, 33 anos, é um desses casos por unir o fisiculturismo ao orgulho de ser gay.
Em sua trajetória, claro, brilham os primeiros lugares na categoria Body Muscle tanto no Campeonato Estadual do Rio de Janeiro Mr.Rio 2014 quanto no IFBB Champion 2013, no qual também foi overall (campeão dentre todos os campeões).
Mas também reluz sua presença em paradas do orgulho LGBT e a ajuda que seu exemplo de atleta abertamente homossexual proporciona, inclusive com vídeos politizados em suas redes sociais. E fica o recado do campeão: "O preconceito será jogado à lona quando as pessoas não tiverem problemas de se mostrarem como verdadeiramente são."
Desde quando vem a paixão por musculação? Quando decidiu ser atleta?
Sempre pratiquei esportes. Eu representava o colégio que estudava e a cidade em jogos de vôlei e handebol. Ao terminar o Ensino Médio, os jogos com a bola deram lugar aos aparelhos de musculação e me apaixonei de cara. Sobre virar atleta de fisiculturismo, foi quando voltei a morar na minha cidade natal (Leopoldina - MG) - vivia no Rio - e após o término de um relacionamento de sete anos.
Como é sua rotina de vida, com treinos e demais afazeres?
Amo minha rotina de vida (risos)... É dela que vem a regularidade nas alimentações e consigo conciliar com tudo. Treino de segunda a sábado por um período entre 45 minutos e uma hora. São oito ou nove refeições por dia, sendo duas líquidas. E trabalho em minha imobiliária.
O que a musculação e a busca do aperfeiçoamento do corpo lhe ensinou para a vida?
Autocontrole de sentimentos e desejos que jamais poderia imaginar que controlaria.
"SEGURA ESSA MARIMBA" ? Em recente vídeo na página do deputado Jair Bolsonaro, o próprio afirma que professores gays...
Publicado por Henrique Seoldo em Quarta, 18 de novembro de 2015
Quanto gasta mensalmente com treinos, alimentação, orientação etc? Qual o maior desafio no seu esporte? Qual seu objetivo maior?
Sinceramente eu não constumo falar de valores. Não paro pra somar para não ter dor de cabeça (risos), mas afirmo que pra ter um corpo natural e perfeito custa caro financeiramente e socialmente falando.
O maior desafio é a disciplina, sem dúvida. Meu maior objetivo era ganhar o campeonato estadual do Rio de Janeiro (Mister Rio) e consegui. Eu me tornei campeão invicto por ter ganho todos os campeonatos e fui padrão da categoria Body Muscle. Hoje meu sonho é competir fora do país na Muscle Mania e ser campeão.
De onde veio sua decisão de ser atleta e não esconder sua orientação sexual?
Eu subi ao palco para competir como atleta. Não coloquei minha condição sexual à frente do meu trabalho. No mais, sou assumido desde os 16 anos de idade, não tem como esconder (risos).
Como você, gay declarado, foi recebido na IFBB e é tratado pelos demais atletas? Sente algum preconceito?
Fui super bem recebido pela federação, não tive nenhum problema. Olhares isolados ou qualquer outro tipo de preconceito é individual e a única que coisa que posso fazer é ignorar. Quanto a eles, é aceitar que um gay foi o melhor.
Como avalia a forma que o universo de esportes em geral trata LGBT?
Trata de acordo com sua postura, independente de sua condição, mas as marcas ainda resistem em patrocinar um atleta declaradamente gay. No meu caso, ganhei todos os campeonatos que disputei e tinha marketing suficiente para vender com isso, contudo, creio que esbarramos num país preconceituoso e um esporte de pouca expressão na mídia.
Você acha importante que cada vez mais atletas se coloquem publicamente como LGBT como forma de minar o preconceito?
Sem dúvidas, o atleta é um ídolo e serve de inspiração para muitas pessoas. Quando um ícone abraça uma causa e se destaca pelo seu talento, mostra que não somos vítimas do sistema e que podemos ocupar os lugares mais altos se lutarmos para isso.
O preconceito será jogado à lona quando as pessoas não tiverem problemas de se mostrar como verdadeiramente são. Num esporte associado à imagem do homem másculo, viril e perfeito como é o caso do fisiculturismo, ter um gay como referência é, sem dúvida, algo que merece destaque.
Você possui muitos fãs. Já houve casos em que eles declararam que você se mostrar como gay os ajudou a se aceitarem?
Ultimamente venho usando minhas mídias sociais para ajudar ao máximo as pessoas a se aceitarem e a tirar esse peso das costas que é esconder sua verdadeira essência. Já pude ajudar algumas pessoas a se aceitarem e posso afirmar que é extremamente gratificante porque sei o que elas estão passando. Só podemos deixar um legado se nos disponibilizarmos para ouvir e ajudar o próximo.
