Por Marcio Claesen
A aceitação da própria homossexualidade pode vir acompanhada de dúvidas, angústias e questionamentos. Se isso acontece em uma ambiente historicamente machista, como as Forças Armadas, essa confusão de emoções triplica de intensidade.
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É o que ocorre em Enquanto Todos Dormem, espetáculo escrito e dirigido por Thiago Cazado, que estreou na sexta-feira 8 em São Paulo e segue em cartaz até dia 24 no Teatro Augusta.
Em algum lugar nos confins do Brasil, no ano de 1938, Pedro (Cazado) e Luiz (Renan Mendes) servem o Exército e aguardam, em treinamento, a hora de entrar em combate. Nessa expectativa, nasce uma amizade e, dali, uma outra intensa emoção entre os jovens.
O que acontece, a partir desse momento, é um forte assédio por parte de Pedro em cima de Luiz, que titubeia entre ceder aos seus desejos ou manter a imagem de macho hétero perante o batalhão. As conversas começam à noite - daí o título da peça - e transformam-se em encontros diurnos, quando eles "perdem-se" propositalmente do restante da tropa.
Pedro usa de diversas artimanhas para seduzir o colega, que mostra-se cada vez mais dependende do humor e carinho do soldado. A plateia, entregue, torce para que o romance engate, ainda que as situações se repitam demais.
Durante parte considerável do espetáculo, as cenas começam e terminam praticamente da mesma maneira. É sempre o mesmo desenho de cena - dramaturgica e visualmente falando - que se inicia com um personagem provocando e o outro encantando-se, com muitos acender e apagar de luzes (fade-in e fade-out) e diálogos repetitivos.
Mas há acertos. A cenografia, simples, acerta ao transformar duas espécies de biombos na divisão do que está dentro e fora do acampamento e a trilha incidental, eficiente, faz a ligação dos personagens com o resto do mundo. Os atores, competentes, dão o tom certo para personagens tão parecidos e diferentes ao mesmo tempo.
Não existem amores perfeitos e ainda que Enquanto Todos Dormem tenha defeitos, consegue cativar a audiência tão sedenta de se ver retratada nos palcos e refletir sobre a dificuldade que, mesmo nos tempos de hoje, muitos têm para sair do armário.