Após três anos como diretor do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério Saúde, Fábio Mesquita anunciou, na sexta-feira 27, que deixa o governo.
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Em carta aberta, publicada pela Agência de Notícias da Aids, Mesquita criticou tanto a gestão da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) quanto a do presidente interino Michel Temer (PMDB).
O ex-diretor afirma que o departamento convivia, há certo tempo, com imposições político-partidárias, como a do ex-secretário de Vigilância em Saúde Antônio Nardi, que entrou pela cota do Partido Progressista, "contrariando a história dessa Secretaria que sempre foi dirigida por profissionais altamente qualificados".
Nardi, agora promovido a secretário-executivo ("que é a mesma coisa que ser um vice-ministro", nas palavras de Mesquita) é descrito como uma pessoa intolerável, desrespeitosa e sem capacidade técnica para o cargo.
"Não era tarefa fácil suportar os demandos de Nardi durante este último ano de minha gestão", escreve Mesquita, e cita motivos, tais como "constante assédio moral dirigido aos trabalhadores do SUS; pela arrogância de, mesmo sem formação adequada, ou sensibilidade necessária, portar-se como se fora um profundo conhecedor de um campo tão vasto quanto a Vigilância em Saúde; e pela deselegância, no trabalho; de seu constante uso de gritos e xingamentos, por vezes destinados a funcionários de menor posição".
O ápice da "truculência" de Nardi, segundo Mesquita, foi este ter proibido, enquanto de posse interina do cargo de ministro, que qualquer diretor ou funcionário do departamento compareça ao Encontro de Alto Nível das Nações Unidas em HIV/Aids, que será realizado entre 8 e 10 de junho em Nova York.
"Em 31 anos de existência formal da resposta brasileira à epidemia de aids, essa será a primeira ausência dos técnicos que trabalham com o tema em um fórum tão crucial, se esta sandice prosperar", lamentou o ex-diretor.
Mesquita reprovou ainda o início do processo de impeachment de Dilma e a composição do governo de Temer pela falta de diversidade racial, sexual e de gênero e os cortes que as pastas da Saúde e Educação sofreram tão logo o peemedebista iniciou o governo provisório.
"Portanto, diante desse governo provisório lamentável e conservador – e diante desse ministro da Saúde e de seu secretário executivo – e especialmente diante dos mais recentes ataques à independência e autonomia técnica que sempre gozei ante meu trabalho com os quatro ministros que trabalhei anteriormente, infelizmente me dou conta de que resistir de dentro do DDAHV, neste governo provisório, não será mais possível", escreveu.