Por Marcio Claesen
O histórico beijo entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) inspirou Lucas Drummond a escrever 50 Anos de Novelas: A Trajetória da Representação Homossexual e o Beijo Gay que Parou o Brasil.
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Além de servir aos que buscam refletir sobre a famosa sequência que foi ao ar em Amor à Vida, em 2014, a obra - dividida em três partes - também é opção para nutrir leitores com uma leitura rápida a respeito da história da telenovela.
No primeiro capítulo, Drummond explica como surgiu o produto mais assistido da TV brasileira e fala da mudança do gênero, em fins dos anos 1960, que troca as histórias de capa e espada para tramas realistas e contemporâneas.
Entram os anos 1970 e, com eles, os primeiros personagens homossexuais nos folhetins, miras da segunda parte do livro. O autor focou nas novelas do horário das 9 da TV Globo. A alegação é que as novelas das 7, por exemplo, retratam gays de forma caricata.
Se ele está se referindo a gays afeminados, tem razão. Nas poucas vezes em que homossexuais surgiram em tramas das 6 e das 7 entre os anos 1980 e 2000, foi a comicidade, por meio dos trejeitos, o único alvo das atrações.
Enquanto isso, no mesmo período, novelas das 9 inovavam com a personagem intersex (Buba em Renascer, 1993) e um elogiado casal gay jovem (Sandrinho e Jeferson em A Próxima Vítima, 1995), por exemplo.
É bem verdade que este capítulo reforça uma inverdade que tem sido repetida há anos. Laís (Cristina Prochaska) e Cecília (Lala Deheinzelin), o primeiro casal lésbico assumido da TV, não foi separado por causa de uma suposta rejeição do público em Vale Tudo (1988).
O próprio autor da novela, Gilberto Braga, já explicou, como no livro Autores (Ed. Globo), que a ideia de separar o casal estava na sinopse da trama, já que seu objetivo era discutir casos que eram muito comuns no Brasil até há bem pouco tempo atrás, o da herança - o homossexual morre e a família intolerante entra na Justiça contra o companheiro que permanece vivo.
"Criei as lésbicas muito em cima do caso Marco Aurélio e Jorginho Guinle, para discutir a sucessão de bens. Não houve rejeição nenhuma a elas", escreveu Braga.
Na terceira e última parte da obra, o autor conclui que o beijo em Amor à Vida consolida a ideia de que "ser gay é normal, embora muitos conservadores não querem admitir". Drummond traz uma pequena entrevista com Solano que diz que até "as pessoas mais preconceituosas" queriam o beijo no final da trama, já que Félix e Niko tornaram-se o principal casal da novela.
Com exceção de incorreções, como a citada sobre Vale Tudo, e pecado, como o de tratar travesti no gênero masculino, 50 Anos de Novelas é uma obra de fácil compreensão, ideal para ter um recorte interessante da realidade homossexual nos folhetins e abre caminho para que o leitor que tenha se interessado pelo tema busque outras obras mais aprofundadas sobre novelas.
50 Anos de Novelas: A Trajetória da Representação Homossexual e o Beijo Gay que Parou o Brasil
Lucas Drummond
Editora Appris
95 páginas
2015
R$ 44 no site da editora clicando aqui.