Por Welton Trindade
Foto divulgada no Facebook: Eduardo Viana
Meados dos anos 2000. Movimento lésbico reivindicava visibilidade e colocava os gays como alvos de ataque e responsáveis pela falta de projeção de suas pautas e atuação. Veio daí a mudança no Brasil da ordem das letras: GLBT por LGBT!
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Ano de 2016: como prova de que ordem de letra não sai do campo simbólico, a última da sigla teve gigantesca alcance na mídia, na academia, nas gestões públicas, Direito, esporte, ativismo... Difícil achar uma área em que travestis e transexuais e sua bandeira não tenham se destacado até mais que gays, lésbicas e bissexuais (juntos).
Abaixo, oito fatos que fizeram deste o Ano Trans, já que não se viu tal confluência até então! Algo histórico!
1 - Cargo máximo no Governo Federal
O ano começou e terminará com uma trans como coordenadora LGBT no Governo Federal, cargo máximo em direitos humanos arco-íris na gestão pública nacional. O mais interessante que é houve troca de governo nesse tempo, mas o destaque a trans foi igual entre Dilma Rousseff (PT), com Symmy Larrat (à esq.), e Michel Temer (PMDB), com Marina Reidel.
2 - Tema de paradas LGBT
Importantes paradas de capitais brasileiras, tais como as de São Paulo, BH, Rio e Salvador, colocaram a cidadania trans, a superação de violência e a lei de identidade de gênero como tema. Aí, ineditismo histórico: bandeiras trans (rosa, azul e branco) gigantescas nas passeatas, organizadas por maioria de gays (movimento GGGG onde mesmo?).
3 - Nome social no serviço público federal
Com o pescoço em risco pelo impeachment, Dilma Rousseff sofreu pressão do movimento trans durante a 3ª Conferência Nacional LGBT para que assinasse decreto de reconhecimento do nome social na administração pública federal. No encerramento da atividade, frustração! A então presidente não assinou a medida conforme era esperado. Os gritos de cobrança e a articulação política fizeram Dilma rever a negativa e, no dia seguinte, 28 de abril, enfim, rubricar o decreto (foto).
4 - Maioria nas candidaturas arco-íris
Pesquisas atestam que há mais homo e bissexuais que trans no Brasil (e no mundo todo). Com base nisso, pergunta-se: natural que gays, bis e lésbicas fossem maioria dentre as 269 candidaturas a vereança e prefeituras em 2016 no País? Que nada! Dentre os que declararam sua orientação sexual ou identidade de gênero, foram 102 trans, 101 gays, 29 lésbicas, 23 bis e 1 queer.
5 - Transcidadania
O programa Transcidadania, do prefeito paulistano e semideus LGBT Fernando Haddad (PT) e que concede bolsas de estudo, formou sua primeira turma (foto) e virou referência nacional e internacional. A prefeitura foi para fora do País divulgar o projeto, que virou modelo na área Brasil adentro. O prefeito eleito, João Dória (PSDB), prometeu não só mantê-lo como ampliá-lo. De novo, a pauta trans implodindo barreiras partidárias.
6 - Respeito a trans nas Olimpíadas
História feita no esporte! Os Jogos Rio 2016 foram os primeiros feitos sob nova regra do Comitê Olímpico Internacional (COI), editada este ano e que permitiu homens trans a competir sem nenhuma restrição. Quanto às mulheres trans, a cirurgia de transgenitalização deixou de ser requerida. Para elas, basta não ter mais de 10 nanomol de testosterona por litro de sangue. O Brasil fez sua parte: na abertura, Lea T e outras trans desfilaram em bicicletas à frente das delegações dos países.
7 - Lei Maria da Penha para trans
No primeiro aníversário da Lei Maria da Penha, que pune violência doméstica contra mulheres, o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais decidiu que todas as outras promotorias do país podem aplicar a norma em casos de agressões a travestis e transexuais de identidade feminina. A determinação vale mesmo para quem não fez cirurgia de transgenitalização ou não tenha mudado o nome civil.
8 - Desfile de Ronaldo Fraga
Para ratificar que fora de moda é o preconceito, um dos mais renomados estilistas do Brasil, Ronaldo Fraga, levou 28 trans para seu desfile em outubro na São Paulo Fashion Week. "Numa época de ascensão de [Jair] Bolsonaro, [Marcelo] Crivella, bancada religiosa e bancada da bala, isso é fazer política. É minha forma de protesto."